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- Contato Brasil, 23 de dezembro de 2024 00:36:53
Podemos dizer, sem desassossego, que o mundo contemporâneo com sua matriz de valores clássicos, onde desponta a liberdade, teve início na Revolução Francesa de 1789. Mesmo visto com reservas nas suas intenções e conquistas, sobretudo por parte importante da elite intelectual e política inglesa do mesmo período, com destaque para os textos e reflexões de Edmond Burke, os seguidores de Danton e Robespierre conseguiram consignar a famosa Declaração dos Direito do Homem e do Cidadão.
Ali, o cidadão surge com vigor e determinação na cena pública. A vontade coletiva, efetiva ou suposta, passa a integrar o exercício da política na sua forma material e simbólica. Mas a liberdade então anunciada, jamais compactou com a negligência ou com o poder irresponsável. O bem-estar a ser perseguido, não seria conquistado e mantido sem a contrapartida do trabalho e do esforço. A liberdade possível se fazia acompanhar da aplicação nos afazeres, controle rigoroso de si mesmo, eventuais sacrifícios, virtude privada e cívica.
Essas referências, tratadas pejorativamente como atributos burgueses, passaram a ser negligenciadas e não raro combatidas no pós-guerra do século XX. A disputa ideológica, rasteira e insalubre, entre capitalismo e socialismo que marcou a segunda metade do século XX terminou engolida pela efetiva sociedade de massas em que vivemos hoje. Esteticamente pavorosa, a alma do nosso tempo faz dos homens mobília de sentimentos difusos prenhe de rancores.
Nos quatro cantos do mundo, essa realidade se apresenta ao seu modo e peculiaridades. Mas está lá, vicejando perigosamente. No Brasil, ela se fez presente pela expressão política de Jair Bolsonaro. Primário e tosco, o nosso presidente navega nos sentimentos mais mórbidos do homem médio brasileiro. Humilhado, maltratado, sofrido, entristecido, violentado, agredido, sem horizonte ou amanhã o brasileiro é um pote até aqui de mágoa. Bolsonaro tem sido a promessa de paz no coração desta gente, antes da gota d’agua.
Na noite de terça-feira, no Estádio Mané Garrincha em Brasília, o Ministro Sergio Moro foi ovacionado pela plateia. Mais uma vez atacado pelos inimigos da Lava Jato, a grande gangue que ainda ocupa espaços poderosos na República, Moro deverá, mais uma vez, dar a volta por cima. É bem verdade que o jovem juiz, enquanto julgou os processos da Lava Jato, foi sim no limite da Lei. Mesmo assim, o nosso Torquemada pós-moderno é parte importante do ainda calmo coração do brasileiro nesses dias incertos.