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- Contato Brasil, 23 de dezembro de 2024 00:40:28
É verdade, o presidente Bolsonaro é errático. Costuma ofender o português, os bons conceitos e alguns valores caros ao mundo ocidental e democrático. Tem o hábito estranho de misturar sua proclamada fé em Deus com um culto sinistro às armas. Cultiva também, por desencontro íntimo ou ruídos cognitivos, a mania de desdizer a tarde o que assegurou pela manhã. É um espanto!
Mas, em pelo menos uma coisa ele está absolutamente correto: o nosso sistema político vigente tem mais semelhanças com um sindicato do crime do que com uma representação digna de qualquer sociedade com um mínimo de decência e cidadania. Apesar das palavras e gestos desconjuntados, Bolsonaro não erra ao lembrar, com dedo em riste, que os políticos são o grande mal da nação brasileira.
Pelo menos desde a redemocratização, em 1984, que a classe política vem se aprimorando em ser sócia do orçamento da União. As famosas negociações, tão defendidas hoje pela grande mídia – a mesma que antes condenava essas práticas num passado bem recente - , significam exatamente o que? Esse entendimento, realmente necessário entre os Poderes, traduz-se exatamente em que? Pois é, no nosso caso, o Congresso, em sua grande maioria, quer dinheiro, prebendas, benesses e conveniências nada republicanas. Alguém já leu, já viu ou ouviu, um debate digno, honesto sobre políticas públicas entre membros do Poder Executivo e o Congresso Nacional? É raro, e quando existe a grande mídia simplesmente desconhece. Veja o trabalho vigoroso, rico e de grande qualidade produzido pela CPI da Previdência, presidida pelo Senador Paulo Paim em 2017. Em algum momento esse documento foi citado pela grande mídia? Em algum momento o bufão Paulo Guedes, office boy de banqueiro, teve a elegância de considerar o teor daquele relatório produzido pelo Congresso Nacional, este mesmo Congresso que hoje vota e finge que discute a Reforma da Previdência?
Certamente temos parlamentares corretos, preparados e que sabem o que dizem e porque dizem. Mas, são poucos e raros. A maioria vende virtudes para tolos enquanto defende interesses inconfessos. Este é o ponto! Daí a justa revolta do senhor Bolsonaro. Aparentemente destrambelhado, o presidente da República apenas sinaliza que não vai deixar-se manietar por um Congresso que ruge e resmunga por ver diminuída, de forma crescente, sua participação indecorosa nos dinheiros da República.
É evidente a falta de modos do presidente. É quase um homem fora do lugar. Mas, tão gritante quanto, é o mugido das gangues que espalham-se nos quatro cantos da República, encastelados nos três poderes e em todas as instituições do Brasil.
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