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Jorge Henrique Cartaxo
  • 17/01/2019 11h19

    Les armes vont parler

    Na minha adolescência em Fortaleza, na hoje extinta pacata e gentil Fortaleza agora dominada e controlada pelo crime organizado, a maioria dos homens de bem – chic “homens de bem - andavam armados

    Na Fortaleza antiga os homens de bem andavam armados( foto: site Fortaleza Antiga)

    Mereceria uma grande reflexão o tratamento que a mídia está oferecendo ao “decreto das armas” e o que os cidadãos brasileiros, pelo menos a sua grande maioria, estão de fato achando da possibilidade e da oportunidade de poderem defender a si, sua família e patrimônio. Os proprietários da virtude, dentre outras arrogâncias, acham sempre que o cidadão brasileiro, o precário cidadão brasileiro, é antes de tudo um imbecil.

    Ele não sabe se defender, é um assassino in pectore, um paspalho que diante de uma arma nas mãos terá uma síndrome de Cauby Peixoto e vai sair rebolando a solfejar: ....conceiiiiiçãaaaooooo....euuuu...meeee...leeemmmbro muito beeemmmm....”. Mesmo sabendo dos números assombrosos da violência no País, da evidente incapacidade do Estado de proteger seus cidadãos e suas famílias dos avanços do crime organizado e desorganizado nos quatro cantos da pátria, os autoproclamados “ vigilantes da bondade e da paz social” babam vociferando que a violência vai crescer no bananal. Que as crianças vão se matar com as armas dos pais incapazes...

    Na minha adolescência em Fortaleza,  na hoje  extinta pacata e gentil Fortaleza agora dominada e controlada pelo crime organizado, a maioria dos homens de bem – chic  “homens de bem - andavam armados. Os homens simples também. Sempre carregavam suas peixeiras na cintura. Não me lembro dessa gente sair se matando à toa. Porque os homens de ontem  – para dar uma chance aos “proprietários da virtude”- teriam mais prudência e bom senso do que os atuais?   Meu avô, então com mais de 80 anos, certa feita foi socorrer sua filha e netas que moravam ao lado da sua casa na rua Senador Pompeu. Um bandido ousado tentava arrombar a porta da casa  da minha tia e suas quatro crianças mulheres. Alertado por uma previdente campainha que ao soar advertia que algo acontecia na casa da filha, meu avô empunhou seu revolver e partiu em socorro da filha. Do alto da sua serena bravura sertaneja,  o velho José Marques Pereira  mirou sua arma em direção ao crânio do bandido e numa única advertência fez saber que ele morreria  se não partisse em rápido galope.

    A crônica familiar, aparentemente ingênua e romântica, apenas ilustra o que somos verdadeiramente. A consciência das nossas responsabilidades e atribuições, nos verticalizam diante da existência e seus desafios. Lamentavelmente, nosso tempo é de guerra. Estamos dominados por gangues. Mas nós não somos isso, mas antes a digna bravura do velho José Marques Pereira.  Como uma dia bradou Mitterrand: Les armes vont parler!

    Jorge Henrique Cartaxo é jornalista e mestre em História

    email: [email protected]

     

    Twitter: @JorgeCartaxo6


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