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- Contato Brasil, 03 de fevereiro de 2025 00:47:15
(Brasília-DF) Vou contar uma história para vocês. Uma vez fui convidado para ir num evento na residência, em Brasília, do então presidente da Confederação Nacional da Indústria, o mineiro Robson Braga Andrade, que comandou a casa de 2010 até meados de 2023.
Convidado por algum diretor da instituição acabei sentando na mesa de membros da instituição do passado e daquele momento. Lá estava o ex-presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Roberto Moreira Ferreira, que comandou a instituição de 1992 a 1995. Ele foi eleito, também, em 2007 e 2011 presidente emérito da FIESP e CIESP.
Ele me questionou sobre o sucesso de determinado senador nordestino. Eu contei detalhes do trabalho do distinto e passei a fazer considerações sobre o sucesso dos nordestinos na política.
Disse a ele que em face do Nordeste do Brasil ter um semiárido com 20 milhões de pessoas e com uma histórica insegurança hídrica, os filhos e filhas tanto das famílias mais abastadas como medianas eram mandados estudar nas melhores universidades públicas do país.
Disse a Moreira Ferreira, que ao eles voltarem, por determinação familiar e pela realidade econômica onde o Estado é fundamental para definição de oportunidades para o poder e negócios, alguns deles eram designados para atividades e funções públicas. Não raro, para o bem e para o mal, os nordestinos mandavam o que tinha de melhor para vida pública.
Em seguida, me arrisquei a dizer a ele que os membros das elites paulistanas e do sul do Brasil, ao enviarem seus filhos e filhas para estudarem em escolas fora do país, quando eles retornavam iriam, face às muitas oportunidades no centro do Brasil, atuar nos negócios das famílias, comércios, tradings, bancos e corporações. Nem sempre os melhores dessas regiões do país iam para a vida pública.
Moreira Ferreira soltou um sorriso e brincou com minhas constatações. “De fato, no nosso caso. Temos que pagar caro por nossos representantes”. Outros na mesa concordaram. Fiquei aliviado, pois minha audaciosa avaliação contou com amplo apoio.
Neste sábado, 1º de fevereiro, a Câmara e o Senado elegeram as suas Mesas Diretoras para o biênio 2025-2026. No Senado, o presidente é um nortista do Amapá, um pequeno estado onde um senador se elege com 150 mil votos. De todos os cargos da Mesa do Senado, constam mais dois nortistas e quatro nordestinos, nenhum paulista ou sulista. Na Mesa da Câmara, o presidente eleito é da Paraíba, os outros seis membros titulares da Mesa constam um carioca e um paranaense. Todos os outros são nordestinos.
Não é o caso de falar de quantidade, mas de qualidade. A maior bancada entre as regiões é a Sudeste, São Paulo tem 70 deputados e deputadas federais. A região norte tem uma bancada com muito mais estados, mas praticamente do tamanho da bancada sulista, que só tem três estados.
Podemos dizer que, infelizmente, a política virou um negócio como outro qualquer, mas ainda é uma atividade humana que reúne algumas excepcionalidades, gente que deseja fazer algo diferente que encantam gente, muita gente.
Jornalistas, como eu, adoram desmontar certezas e arrogantes constatações, porém independente dos arranjos do jogo do poder nacional, está cada vez mais vivo o que arrisquei dizer para o já falecido Roberto Moreira Ferreira.
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
e-mail: [email protected]