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Misto Brasília - Por Gilmar Correa
  • 25/10/2018 16h45

    Quem defende o povo das instituições?

    O “sistema” se autopromove ao criticar as falas como a do filho de Bolsonaro contra o Supremo

    O inconformismo se manifesta quando o Estado não funciona bem/Arquivo/Reprodução

    Uma gritaria e manifestações ocorrem desde domingo por conta de um vídeo que viralizou na internet. O filho do presidenciável Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), afirma numa sala de aula de cursinho preparatório para o concurso da Polícia Federal, que bastava um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal.

    Sua fala beira a um infantilismo que não poderia sair da boca de um parlamentar, hoje o mais votado de São Paulo.

    Manifestações parecidas, no entanto, com ataques diretos aos ministros da Suprema Corte, do Tribunal Superior Eleitoral ou do Superior Tribunal de Justiça, não é um caso novo ou inédito. Basta pesquisar no Google.

    O ex-presidente Lula da Silva sempre atacou a Justiça. Os petistas cansaram de atacar as Cortes. O deputado Wadih Domous (PT-RJ), que foi presidente da OAB do Rio de Janeiro, não só criticou como sugeriu o fechamento do Supremo.

    Da tribuna da Câmara ou do Senado há dezenas de discursos de parlamentares de diferentes matizes partidárias contra o Poder Judiciário. E há pedidos de impeachment de ministros do STF. Mesmo assim, a República continua de pé.

    A fala do “garoto”, como classificou o pai, ganha proporções por conta das eleições, onde a polarização abre as cortinas para todo o tipo de ataques, mentiras e agressões. No rastro ficam esquecidas as propostas. Pior: não se sabe com precisão como pensam os candidatos e quais as suas verdadeiras ideias para os próximos quatro anos.

    O voto a ser depositado em Bolsonaro no domingo – já disseram “ene” especialistas – é um voto de protesto. No Rio e Minas - estados onde ocorre o segundo turno para o governo -, também há essa insatisfação popular latente.

    A gritaria que se ouve por esses dias é mais um brado para a preservação do Sistema. Ocorre que o Sistema há muito tempo virou as costas para o povo.

    Trabalha olhando para a ponta dos seus sapatos, onde o corporativismo é questão permanente. O que dizer, por exemplo, do reajuste de 16% para os ministros com efeito cascata para todo o Judiciário ou do auxílio-moradia para juízes, promotores e procuradores? As tentativas de legislar no lugar do Legislativo ou da permanente e já conhecida lentidão do Judiciário?

    A indignação é palpável diante da falta de credibilidade que estas instituições têm junto à população. Essa escala de negatividade foi por diversas vezes aferidas em pesquisas de opinião.

    O que disse o “garoto” Bolsonaro nada mais é do que a própria manifestação do povo. A falta de segurança, as escolas e a educação em péssima situação, a infraestrutura em frangalhos, a economia no limite da régua e a saúde cada vez pior são motivos suficientes para pavimentar o inconformismo. É perceptível que o brasileiro paga impostos para apenas manter a máquina do Estado que aplica mal os recursos.

    A Justiça e seus representantes pedem respeito. Sim, devemos ter respeito com as instituições. Entretanto, a via deve ser de mão dupla. Os seus representantes têm que se apresentar com dignidade e servilismo à população. Isso também é democracia. Não é o que temos visto.


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