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  • Contato Brasil, 29 de abril de 2024 07:54:51
Humberto Azevedo
  • 03/06/2023 15h00

    “Agora é que nós vamos realmente saber como vai ser a administração” Zema, afirma Carlos Viana

    Senador do Podemos mineiro afirmou também que a nova gestão de Lula precisa de “uma definição de quem comanda”; “Se cada ministro decidir fazer o que quiser, isso gera uma confusão muito grande”, comentou.

    Na foto de Cadu Gomes, o senador durante visita ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), aposta que, muito em breve, o país receberá inúmeros investimentos chineses que ajudarão na retomada do crescimento econômico e do pleno emprego.

    Em entrevista exclusiva a este Blog, o senador Carlos Viana (Podemos-MG) afirmou que será “agora”, a partir do segundo mandato do governador Romeu Zema (Novo), que a população mineira irá “realmente saber como vai ser a administração” estadual a frente da máquina pública desde janeiro de 2019. Na oportunidade, Viana pontuou que é preciso haver uma melhora na articulação e interlocução da gestão Zema com os parlamentares em Brasília, fato que segundo ele até hoje inexistiu.

     

    O senador mineiro do Podemos afirmou também que a nova gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa de “uma definição de quem comanda”. De acordo com ele, “se cada ministro decidir fazer o que quiser, isso gera uma confusão muito grande”. Viana reforçou ainda que a terceira gestão de Lula à frente do Palácio do Planalto não pode cometer os mesmos erros do passado. “Agora, se eles [do entorno de Lula] acertarem no sentido de aprenderem com os erros do passado, dialogarem mais, há uma grande chance, sim, de fazerem avançar”, comentou.

     

    Na entrevista ao Blog, Carlos Viana que, inclusive, preside a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado Federal falou também que sua prioridade absoluta à frente daquele colegiado é instituir “o Fintec - o Fundo de financiamento para a tecnologia” com objetivo de fomentar a produção de pesquisas neste setor. Na ocasião, o senador disse acreditar que o maciço investimento no setor tecnológico e na transição energética resultará num boom de investimentos chineses no país.

     

    Abaixo, segue a íntegra da entrevista concedida pelo senador Carlos Viana.

     

    Como presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado Federal, quais são as suas prioridades para estes segmentos neste biênio 2023/2024? Tem alguma proposta, ou propostas, que favorecerá a geração de emprego e renda dos polos tecnológicos existentes no país?

    Senador Carlos Viana: A nossa principal prioridade na Comissão de Ciência e Tecnologia, e eu entendo como a mais importante, é instituirmos o Fintec - o Fundo de financiamento para a tecnologia e todos os mecanismos, que ajudem com juros mais baixos as pesquisas e o desenvolvimento em nosso país de todas as áreas ligadas à ciência e tecnologia. Houve um esvaziamento muito grande destes recursos nos últimos anos não sem as nossas reclamações e denúncias junto ao Ministério da Economia, mas infelizmente sempre as regras do contingenciamento, ou da redução de gastos, prevalecia sobre a pesquisa, o que é um erro na minha opinião. Quando você incentiva a geração de patentes, a descoberta de novos sistemas, de novos ‘softwares’, ou de mesmo de 'hardware', você está incentivando a geração de riqueza. Você faz com que regiões como Santa Rita do Sapucaí - o nosso Vale da Eletrônica se desenvolva cada vez mais e tenha financiamento. Principalmente para enfrentar a concorrência internacional, que já entendeu a importância deste setor. Se nós conseguirmos reconstituir os fundos, se conseguirmos que o governo [federal] cumpra a promessa de manter a inflação estável e o controle do orçamento no país, nós vamos propiciar às empresas de eletrônica, digital e telefonia que estão no Sul de Minas, que elas concorram ‘pari-passu’ com os sistemas internacionais, ou mesmo que elas possam ser partes de acordo internacionais que tragam para o Brasil novas tecnologias e a possibilidade de desenvolvimento de novos sistemas. Eu visitei recentemente vários eventos, que ligam o Brasil a um dos mercados mais importantes. Lá o Brasil é visto como um dos principais campos para o trabalho internacional das empresas e eles querem parceiros em nosso país. Eles querem aqui ter associados, contratos, uma série de referências técnicas e também empresariais, que eles possam desenvolver conjuntamente as riquezas. É um mundo de muita disputa. Você tem os Estados Unidos de um lado, tem a China de outro, tem agora a Índia chegando neste mercado e eles querem defender os sistemas que desenvolveram e buscar parceiros prioritários. E o Brasil é cobiçado por todos eles. Portanto, para gerarmos empregos e gerarmos mais desenvolvimento para o Vale da Eletrônica é fundamental que as empresas estejam em contato com os estrangeiros similares e façam acordos de transferência de tecnologia e que estejam com financiamentos para que possam ampliar as atividades.

     

    Blog: O Brasil e o mundo passam por um momento decisivo na definição de um novo paradigma energético sustentável, que substituirá as fontes de energia atualmente empregadas, sobretudo as de origem fóssil. Desta forma há alguma proposição, ou iniciativa, que poderá fazer uma espécie de up grade nos polos tecnológicos com objetivo de tornar, por exemplo, a energia solar como principal matriz energética a ser empregada no país tanto em ambiente residencial e comercial?

    CV: A questão da energia para o futuro, nós no Brasil estamos muito atrasados com relação a esse assunto. Santa Rita do Sapucaí tem um exemplo de vanguarda, que é a escola que forma técnicos. A idealização de pessoas que tiveram visão de futuro e, salvo engano, está hoje nas mãos dos padres jesuítas, que também tem uma tradição muito grande na área da educação, e é um exemplo de como nós precisamos nos antecipar. O Brasil hoje discute a ampliação dos campos de petróleo, inclusive, na costa próxima [da bacia] amazônica, onde está uma discussão muito grande sobre esse assunto - o que ao meu ver não afeta a Amazônia em absolutamente nada, mas é preciso ouvir àqueles que defendem o meio ambiente para chegarmos a um acordo. Enquanto o Brasil ainda discute a questão do petróleo, o mundo já está muito à frente do nosso momento. A China, por exemplo, eu visitei fábricas de carros elétricos que chegam a rodar 1200 km com uma bateria carregada durante a noite numa tomada de energia elétrica e que chegarão ao Brasil muito em breve e que se receberem os incentivos devidos vão ganhar o mercado brasileiro. Os [norte] americanos têm apenas a Tesla e alguns modelos que ainda estão em ensaio nas grandes montadoras, mas que não estão preocupadas com o Brasil. As montadoras chinesas, não, [ao contrário], vão instalar uma fábrica em Camaçari (BA) onde era a montagem da Ford. A Aion que nos recebeu muito bem e que quer trazer os carros de vanguarda para o Brasil e [de] outras fontes como, por exemplo, hidrogênio verde, Minas Gerais, o Sul de Minas e regiões com muita água tem a possibilidade de se tornar grandes produtoras de hidrogênio verde sem poluentes e uma energia que o mundo vai demandar. Hoje na Europa, o hidrogênio verde é a grande discussão na substituição das fontes de carbono e, principalmente, na utilização do próprio gás que vem da Rússia e que, portanto, nós precisamos seguir o exemplo de Santa Rita do Sapucaí nesta visão de futuro e nesta visão de vanguarda.

     

    Blog: Vivemos também um momento de profundas transformações e que guiarão a humanidade nas próximas décadas, sobretudo com o avanço da tecnologia da inteligência artificial. Como tratar deste tema que poderá extinguir inúmeros postos de trabalho e milhares de carreiras profissionais, ao mesmo tempo em que o mundo já se encontra, desde 2016, com uma desigualdade econômica sem precedentes na história - onde o 1% dos mais ricos detém a mesma riqueza dos 99% da população do planeta, de acordo com estudos da Organização Não Governamental (ONG) britânica intitulada de Comitê de Oxford para o Alívio da Fome (Oxfam - Oxford Committee for Famine Reliefe, sigla em inglês)?

    CV: Com relação a inteligência artificial [este] é um tema no qual nós precisamos nos debruçar, pensar e nos preocupar. Por que a inteligência artificial vai substituir a mão de obra humana em vários setores, [e] no futuro praticamente em todos. Robôs vão se tornar muito mais comum em fábricas ocupando espaços de trabalhadores e como nós faremos, no Brasil, onde nós temos aí 60 milhões de pessoas que vivem com R$ 600,00, onde nós temos boa parte da mão de obra que não teve acesso a uma educação de qualidade e ainda depende naturalmente do crescimento da economia, onde nós vamos nos posicionar? Portanto, aqui no Senado nós já demos os primeiros espaços. Nós temos um projeto sobre inteligência artificial que vai começar a tramitar e o mais importante é um projeto com base em princípios: O que são princípios para a inteligência artificial? O respeito ao ser humano, a vida, a ética com relação à privacidade, o resguardo aos dados pessoais [etc]. Isso são pontos que a lei tem que trazer em que a inteligência artificial ao manusear todas nossas informações, que elas sejam usadas sempre no sigilo emitidos pela lei, obrigatório, e principalmente no benefício da humanidade.Nós também temos que, por parte dos educadores, começar a discutir quais são os pontos da nossa educação, os projetos que precisamos implementar para que nossas crianças possam comandar os robôs para que elas possam estar ali sendo as autoras dos momentos de crescimento da inteligência artificial. Nós estamos muito atrasados em relação a este assunto e a questão da riqueza, naturalmente, a riqueza muda de mão a cada época. Nós já tivemos riquezas nas mãos de fazendeiros, nas mãos da indústria, comércio, e, hoje, a riqueza está no mundo digital. E se nós não nos prepararmos o Brasil será sempre o país de muitas desigualdades e não será somente nos salários e nos ganhos, será também nos acessos a tecnologia e na possibilidade de melhorar a vida [das populações].

     

    Blog: Qual a sua avaliação destes cinco primeiros meses do novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à frente do governo federal? O que a gestão Lula III precisa fazer para recuperar o crescimento da economia, retomar a criação de empregos, e retirar mais de 30 milhões de brasileiros da linha da miséria em que se encontram atualmente?

    CV: O governo Lula, ao meu ver, está começando agora a mostrar a face do que pode ser daqui para os próximos quatro anos. Os primeiros meses, são naturais, [que aconteçam] muita confusão, um governo que não se entendeu. O PT não é um partido homogêneo, é um partido de grupos que brigam por espaços de poder e que chegaram a uma nova eleição onde tiveram sucesso e, agora, precisam governar. O mais importante é que haja uma definição de quem comanda: por que se cada ministro decidir fazer o que quiser, isso gera uma confusão muito grande. É preciso que exista um núcleo à frente do governo tomando decisões. Eu não vou dizer que não sou confiante de que o governo Lula será um sucesso, porque se ele repetir os mesmos erros do passado, nós já sabemos onde se vai colocar o país e o Brasil vai para um buraco. Agora, se eles acertarem no sentido de aprenderem com os erros do passado, dialogarem mais, há uma grande chance, sim, de fazerem avançar. E como brasileiro, eu torço que a gente tenha sucesso para que lá na frente a gente possa discutir política de verdade, ideias e propostas, não em cima de denúncias, de questões ideológicas, religiosas, como nós fizemos nos últimos tempos. A gente precisa pensar o Brasil do futuro e é a política que tem que dar essa resposta.

     

    Blog: Como Vossa Excelência avalia os 53 meses do governo Romeu Zema a frente do Poder Executivo mineiro? No último quadriênio, o governo mineiro era uma das poucas gestões estaduais que tinha uma boa relação com o antecessor do atual governo federal. Assim como avalia o que tem sido a relação institucional dos governos Zema e Lula III?

    CV: Com relação ao governo Zema é preciso entender e eu reconheço que a situação financeira do estado era muito difícil e que havia ali uma herança de desorganização e de muitos problemas. Mas nestes quatro anos, ao meu ver também, muito deixou de ser feito. Nós não temos um programa de crescimento em Minas Gerais. Nós não temos um programa que diga quais são as Minas do futuro. Nós não temos um programa que nos diga como nós vamos sair da dependência da mineração e isso independe de crise. Isso é uma visão de Estado. Ao meu ver, só vender o patrimônio público não resolve os nossos problemas. A gente precisa pensar no futuro e usarmos esse espaço com muita rapidez. Eu como senador, gostaria também, que o governo do estado tivesse mais articulação não só com a Assembleia Legislativa (Alemg), mas também com a base em Brasília. Por que o que determina o financiamento para um estado é o orçamento da União. As grandes obras que a gente espera, por exemplo, a duplicação das rodovias entre Itajubá até a divisa com São Paulo, a melhoria nas rodovias do Sul de Minas, isso vem com o orçamento da União. E para a gente atingir este orçamento da União é preciso que o governador e os senadores estejam muito alinhados para buscar esses recursos, porque isso não aconteceu nestes últimos quatro anos. Cada um teve a sua trajetória, Minas ficou de fora das grandes decisões por ausência mesmo de uma boa política. E houve um reequilíbrio [nas contas do estado] porque durante o governo Bolsonaro Minas Gerais recebeu muitos recursos do governo federal, que colocou em dia os salários [do funcionalismo em que tivemos] a pandemia nos últimos dois anos em que não havia pressão sobre as estradas, as pessoas não viajavam, serviço público em casa, sem pressão de aumento de salário e, agora, não. Agora nós temos o fim da pandemia, graças a Deus, e as estradas estão cheias e esburacadas. As estradas estaduais de Minas são um desastre e estão numa situação muito precária, os servidores querem aumento e estão pressionando porque a inflação corroeu boa parte dos ganhos. A dívida de Minas Gerais está aí em quase R$ 170 bilhões vai ter que ser paga porque durante seis anos nenhum real da dívida foi paga e isso ajudou o governo do estado muito e, agora, é que nós vamos realmente saber como vai ser a administração daquele que foi reeleito. Porque o desafio para Minas Gerais é muito grande daqui para frente e só pode ser resolvido com uma boa articulação política, o que não aconteceu até o momento.


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