31 de julho de 2025
BOLÍVIA

Bolívia faz eleição presidencial em segundo entre um direitista e um radical de direita

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Por Politica Real com agências
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O senador Rodrigo Paz Pereira e o ex-presidente Jorge "Tuto" Quiroga disputarão segundo turno em 19 de outubro na Bolívia Foto: RFI

Com agências

(Brasília-DF, 17/10/2025) Neste domingo, 19, a  Bolívia vai às urnas em um segundo turno presidencial que marcará o fim de uma era política na América Latina.

Há quase 20 anos no poder, o esquerdista Movimento ao Socialismo (MAS) obteve uma derrota histórica nas urnas no primeiro turno, realizado em agosto, e não estará nas cédulas na disputa final pela presidência boliviana.

Assim, o inédito segundo turno no país andino será entre o senador Rodrigo Paz Pereira (Partido Democrata Cristão) e o ex-presidente Jorge "Tuto" Quiroga (Aliança Livre).

Considerado centrista, Paz Pereira obteve 32,08% dos votos na primeira volta, contra 26,94% de Tuto, mais alinhado à direita conservadora.

A eleição, portanto, marca o fim do ciclo bem-sucedido do movimento liderado por Evo Morales, que causou transformações profundas em um dos países mais pobres da América do Sul.

Na década de 2010, a Bolívia cresceu em média a 5% ao ano, impulsionada pelos ganhos com a exportação de gás natural, especialmente ao Brasil e à Argentina.

Mas esses anos de bonança acabaram, e a memória deles não parece ser mais suficiente para os eleitores de 2025, que enfrentam crise econômica com pico da inflação e falta de dólares.

Ecos da direita do Brasil e da Argentina

No segundo turno, Jorge 'Tuto' Quiroga é considerado parte de uma direita tradicional no país.

Portanto, não é um outsider ou político de direita radical de ascensão rápida, algo visto, por exemplo, com a eleição de Javier Milei na Argentina e, em certa medida, de Jair Bolsonaro no Brasil.

Tampouco tem esse perfil Samuel Doria Medina, veterano candidato presidencial e famoso por ter lojas de fast food como Burger King. Medina liderou as pesquisas durante a campanha, mas acabou em terceiro lugar, com 19,93%.

Ainda assim, o movimento global de direita, hoje encabeçada por Donald Trump nos EUA, também está presente nessas eleições bolivianas, diz Fernando Molina.

Ele conta que na região de Santa Cruz de La Sierra, centro econômico do país, polo do agronegócio e perto da fronteira com o Brasil, há uma influência da direita brasileira.

"Há quem se diga bolsonarista no lado oriental do país, com influência em alguns partidos", diz Molina.

A eleição de Milei na Argentina e seu controle bem-sucedido da inflação tem sido usado como um trunfo direitista também na campanha boliviana.

"Tudo isso devolveu certa confiança aos setores mais conservadores", comenta Molina

"Mas há também essas casualidades históricas que acontecem simultaneamente. Porque, junto ao giro à direita, vem um cansaço da Bolívia de um governo de 20 anos."

Apesar da influência dos movimentos globais de direita, os candidatos desse campo político da Bolívia estão mais longe, em tese, do extremismo do que Bolsonaro ou Milei.

Para Moira Zuazo, isso se explica, em parte, porque as transformações e os avanços dos anos de bonança de Evo na Bolívia foram tão fortes que não há "marcha atrás".

"O que foi alcançado em termos de inclusão com a nova Constituição, com a inclusão, não tem volta", diz a pesquisadora.

Fernando Molina também argumenta que a elite boliviana se diferencia da brasileira ou argentina.

"É uma elite mais oligárquica, menos conectada aos fluxos internacionais, menos cosmopolita. Nossa economia é mais voltada para dentro, que não aprendeu em nenhum momento ideias do libertarismo. Então, é uma elite conservadora tradicional", diz

"Também é uma elite que depende muito do Estado para suas riquezas, se comparadas com outros países. Então uma elite antiestatalista seria contra seus próprios interesses."

Na régua ideológica, o candidato Tuto Quiroga está mais à direita, segundo analistas. Ele representa os partidos tradicionais de direita, ligado a líderes militares que governaram o país.

Quiroga assumiu a Presidência em 2001, quando o então presidente Hugo Banzer renunciou por problemas de saúde. Banzer havia sido ditador nos anos 1970 e eleito democraticamente em 1997.

Já Samuel Doria Medina, ex-ministro nos anos 1990, era visto mais perto do centro por seu histórico como social-democrata. Ele é membro da Internacional Socialista na Bolívia, organização que reúne partidos trabalhistas e social-democratas - no Brasil, o PDT de Ciro Gomes é ligado à organização.

Durante a campanha, numa guinada mais à direita do que sua origem, Doria Medina contou com o apoio direto de Luiz Camacho, ex-governador de Santa Cruz, que foi preso acusado de ser um dos líderes do golpe contra Evo Morales em 2019. Ele é considerado um fator radicalizador da agora derrotada candidatura de Doria Medina, explica Molina.

Por ser líder nas pesquisas, Medina também recebeu apoio do empresário Marcelo Claure, que se tornou um dos centros da conversa nessas eleições por sua tentativa de mobilizar o debate eleitoral numa campanha contra o MAS.

Claure é considerado a pessoa mais rica da Bolívia, apesar de ter feito sua fortuna nos Estados Unidos. O empresário é vice-presidente executivo global da varejista chinesa Shein e proprietário do Club Bolívar, um dos times de futebol mais populares do país.

( da redação com agências e BBC. Edição: Política Real)