Lula, em fala à BBC News, disse que vetará possível proposta de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro
Questionado sobre se se arrepende de ter associado Trump ao fascismo durante uma entrevista em 2024, Lula não respondeu diretamente
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Com agências
(Brasília-DF, 17/09/2025). Nesta quarta-feira, 17, numa entrevista à BBC News, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que vetará a proposta de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) caso o Congresso Nacional aprove um projeto de lei que tramita no Parlamento e que pode ir a votação nos próximos dias.
"Se viesse pra eu vetar, pode ficar certo de que eu vetaria. Pode ficar certo que eu vetaria", disse Lula. A entrevista foi concedida na manhã desta quarta-feira ,17, no Palácio da Alvorada.
A declaração de Lula acontece em meio a uma intensa movimentação no Congresso Nacional organizada pela ala bolsonarista que pressiona o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), a colocar o texto em votação.
A expectativa entre lideranças bolsonaristas é de que Motta libere a votação de um pedido de tramitação da proposta em regime de urgência nesta quarta-feira, o que aceleraria a apreciação do projeto.
Apesar de dizer que vetaria a anistia, Lula tentou se distanciar do assunto indicando que caberia ao Congresso e não a ele decidir sobre o assunto.
"O presidente da República não se mete numa coisa do Congresso Nacional. Se os partidos políticos entenderem que é preciso dar anistia e votar a anistia, isso é um problema do Congresso", diz o presidente.
Bolsonaro foi condenado no dia 11 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos de prisão no processo que apurou uma tentativa de golpe de Estado entre 2021 e 2023.
Sua defesa negou a participação do ex-presidente no caso e alegou que ele é inocente. Bolsonaro está em prisão domiciliar desde o início de agosto por descumprir medidas cautelares impostas pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.
Como ainda cabe recurso da condenação do ex-presidente, ainda não houve definição sobre em que local ou presídio ele irá cumprir sua pena.
Mesmo que Lula tente barrar a anistia, seu veto ainda poderia ser derrubado pelo Congresso. Além disso, o tema pode voltar ao STF porque, ao longo do julgamento de Bolsonaro, ministros da Corte afirmaram que indultos e anistia para esses tipos de crimes poderiam ser considerados inconstitucionais.
Na entrevista, Lula também criticou a aprovação pela Câmara dos Deputados da proposta de emenda constitucional (PEC) que criou dificuldades para a abertura de investigações criminais contra parlamentares.
A medida ficou conhecida por críticos como "PEC da blindagem" e foi aprovada por ampla maioria na Casa, inclusive, com o voto de parte da bancada do PT.
"Se eu fosse deputado, eu votaria contra. Se eu fosse presidente do meu partido, orientaria para votar contra. Aliás, eu votaria para fechar questão e votar contra".
A quatro dias de embarcar para Nova York para participar da Assembleia Geral da ONU, Lula criticou o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e diz que não ligou para o americano por entender que ele não quer diálogo.
"Eu não tentei fazer chamada porque ele nunca quis conversar. Nunca quis conversar", afirmou.
Apesar disso, Lula afirmou que se os dois se encontrarem durante sua passagem por Nova York, estaria disposto a conversar com o presidente norte-americano.
"E se ele chegar e passar perto de mim eu vou cumprimentá-lo porque eu sou cidadão civilizado. Eu converso com todo mundo. Eu estendo a mão pra todo mundo. Eu nasci na vida política negociando. Então, pra mim não tem nenhum problema".
Questionado sobre se se arrepende de ter associado Trump ao fascismo durante uma entrevista em 2024, Lula não respondeu diretamente.
"O comportamento dele é muito ruim para a democracia. O presidente Trump tem negado tudo aquilo que é habitualmente conhecido de respeito às instituições democráticas do mundo. Ele tem tido um comportamento muito ruim e tem apoiado pessoas antidemocráticas no mundo inteiro".
Lula também foi questionado sobre o fato de o Brasil receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) ao mesmo tempo em que ele e parte de seu governo apoiam a exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas, contrariando cientistas e ambientalistas.
"Eu sou totalmente favorável de que haverá o momento em que o mundo não vai precisar de combustível fóssil. Mas este momento não chegou. Eu quero saber qual é o país do planeta que está preparado para ter uma transição energética capaz de abdicar do combustível fóssil?", disse.
( da redação com informações da BBc. Edição: Política Real)