31 de julho de 2025
CRIME INTERNACIONAL

Comissão das Nações Unidas(ONU) diz que Israel cometeu genocídio contra palestinos em Gaza

Desde então, ao menos 64.905 pessoas morreram em ataques israelenses em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local, administrado pelo Hamas

Por Política Real com agências
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Imagem de Gaza devastada Foto: Human rights

Com agências

(Brasília-DF, 16/09/2025) Nesta terça-feira, 16, uma comissão de investigação da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que Israel cometeu genocídio contra palestinos em Gaza.

O novo relatório dessa comissão aponta que há motivos razoáveis para concluir que 4 dos 5 atos genocidas tipificados pelo direito internacional foram cometidos desde o início da guerra contra o Hamas em 2023: matar membros de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, causar graves danos físicos e mentais, impor deliberadamente condições destinadas a destruir esse grupo e impedir nascimentos.

O documento da ONU cita declarações de autoridades israelenses e o padrão de conduta das forças de Israel como evidências de uma intenção genocida.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel rejeitou o relatório, classificando-o como "distorcido e falso".

O órgão israelense acusou os três peritos da comissão de atuarem como "representantes do Hamas" e de se basearem "inteiramente em falsidades do Hamas, lavadas e repetidas por outros", que já teriam sido "amplamente desmentidas".

"Em total contraste com as mentiras do relatório, o Hamas é o lado que tentou cometer genocídio em Israel — assassinando 1.200 pessoas, estuprando mulheres, queimando famílias vivas e declarando abertamente seu objetivo de matar todos os judeus", acrescentou.

Um oficial militar israelense rejeitou o relatório como "infundado", e disse: "Nenhum outro país operou nessas condições e fez tanto para evitar danos a civis no campo de batalha".

O Exército israelense lançou a ofensiva em Gaza após o ataque sem precedentes do Hamas contra o sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, quando cerca de 1.200 pessoas foram mortas e 251 feitas reféns.

Desde então, ao menos 64.905 pessoas morreram em ataques israelenses em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local, administrado pelo Hamas.

A maioria da população em Gaza foi deslocada diversas vezes; estima-se que mais de 90% das casas estão danificadas ou destruídas; os sistemas de saúde, água, saneamento e higiene entraram em colapso; e especialistas em segurança alimentar apoiados pela ONU declararam estado de fome na Cidade de Gaza.

A Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre os Territórios Palestinos Ocupados foi criada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2021 para investigar supostas violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos.

O painel de três especialistas é presidido por Navi Pillay, ex-chefe de direitos humanos da ONU e ex-presidente do tribunal internacional para o genocídio de Ruanda. Os outros dois membros são Chris Sidoti, um advogado australiano de direitos humanos, e Miloon Kothari, um especialista indiano em direitos de moradia e terra.

A comissão concluiu anteriormente que o Hamas e outros grupos armados palestinos cometeram crimes de guerra e outras violações graves do direito internacional em 7 de outubro de 2023, e que as forças de segurança israelenses cometeram crimes contra a humanidade e crimes de guerra em Gaza.

A comissão afirmou que seu último relatório foi "a conclusão mais contundente e confiável da ONU até o momento" sobre a guerra. No entanto, não fala oficialmente pela ONU.

O documento de 72 páginas alega que autoridades israelenses e forças de segurança israelenses cometeram e continuam cometendo quatro dos cinco atos de genocídio definidos pela Convenção sobre Genocídio de 1948 contra um grupo nacional, étnico, racial ou religioso – neste caso, palestinos em Gaza:

Matar membros do grupo por meio de ataques a objetos protegidos, ataques a civis e outras pessoas sob proteção, além da imposição deliberada de condições que provoquem mortes.

Causar danos físicos ou mentais graves a membros do grupo por meio de ataques diretos contra civis e objetos protegidos, maus-tratos severos a detidos, deslocamentos forçados e destruição ambiental.

Impor condições de vida destinadas à destruição do grupo, total ou parcial, pela destruição de estruturas e terras essenciais aos palestinos, eliminação e bloqueio de acesso a serviços médicos, deslocamentos forçados, impedimento da chegada de ajuda, água, eletricidade e combustível, violência reprodutiva e medidas específicas que afetam crianças.

Adotar medidas para impedir nascimentos, como no ataque de dezembro de 2023 à maior clínica de fertilidade de Gaza, que teria destruído cerca de 4 mil embriões, além de 1 mil amostras de esperma e óvulos não fertilizados.

Para configurar o crime de genocídio segundo a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, é necessário comprovar que o autor cometeu um dos atos previstos com a intenção específica de destruir, no todo ou em parte, um grupo.

A comissão afirma ter analisado declarações de líderes israelenses e alega que o presidente israelense, Isaac Herzog, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant "incitaram a prática de genocídio".

Segundo o relatório da comissão da ONU, "a intenção genocida foi a única inferência razoável" a partir do padrão de conduta das autoridades e forças de segurança de Israel em Gaza.

A comissão diz que esse padrão incluiria mortes intencionais e ferimentos graves em número sem precedentes de palestinos com uso de armamentos pesados; ataques sistemáticos e generalizados a locais religiosos, culturais e educacionais; e a imposição de um cerco para provocar fome na população.

Líderes políticos e militares israelenses têm afirmado consistentemente que as operações militares em Gaza são conduzidas em legítima defesa, para derrotar o Hamas e outros grupos armados palestinos e garantir a libertação de reféns israelenses.

Eles também insistem que as forças israelenses operem em conformidade com o direito internacional e tomem todas as medidas possíveis para mitigar os danos aos civis.

Mas, em entrevista à BBC, Pillay disse: "Já em 7 de outubro de 2023, o premiê Netanyahu prometeu impor uma 'vingança poderosa' em 'todos os lugares onde o Hamas estivesse implantado, escondido e operando; aquela cidade perversa, nós a reduziremos a escombros'."

"Seu uso da expressão 'cidade perversa' na mesma declaração indicava que ele via toda a Cidade de Gaza como responsável e alvo de vingança. E ele disse aos palestinos para 'sair agora porque vamos atuar com força em todos os lugares'."

A comissão citou que Gallant disse, dias após 7 de outubro de 2023, que Israel estava "combatendo animais humanos, e agimos de acordo". Herzog, por sua vez, afirmou que "é uma nação inteira que é responsável" pelo ataque liderado pelo Hamas.

Pillay acrescentou à BBC: "Levamos dois anos para reunir todas as ações e estabelecer constatações factuais, verificar se de fato ocorreram… São apenas os fatos que conduzem a conclusão. Só é possível enquadrar na Convenção do Genocídio se os atos forem cometidos com essa intenção".

De acordo com a comissão, os atos de líderes políticos e militares de Israel são "atribuíveis ao Estado de Israel", que portanto "tem responsabilidade pela falha em prevenir o genocídio, pela prática de genocídio e pela falha em punir o genocídio".

O relatório também alerta que todos os demais países têm obrigação imediata, segundo a Convenção, de "prevenir e punir o crime de genocídio", com todos os meios disponíveis. Caso contrário, podem ser considerados cúmplices.

"Não chegamos a nomear partes como co-conspiradoras ou cúmplices em genocídio. Mas esse é o trabalho em andamento desta comissão. Chegaremos lá", disse Pillay.

Em julho, os três membros da comissão anunciaram sua renúncia. Pillay, de 83 anos, citou sua "idade, problemas médicos e o peso de vários outros compromissos", enquanto Pidoti afirmou que sua aposentadoria marcava "um momento apropriado para reconstituir a comissão".

O Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou na terça-feira que eles não deveriam ser substituídos e pediu a extinção da comissão.

Diversas organizações internacionais e israelenses de direitos humanos, especialistas independentes da ONU e acadêmicos também acusaram Israel de genocídio contra palestinos em Gaza.

Enquanto isso, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) analisa um processo movido pela África do Sul que acusa as forças israelenses de genocídio. Israel classifica o caso como "totalmente infundado" e baseado em "alegações tendenciosas e falsas".

( da redação com informações de agências. Edição: Política Real)