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Deputada Carla Zambelli é presa na Itália

A Polícia Federal confirmou a prisão de Zambelli em nota divulgada à imprensa

Por Por BBC com edição da Política Real
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Carla Zambelli em fala na Câmara Foto: Arquivo da Política Real

Por BBC

A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) foi presa nesta terça-feira (29/7), na Itália, pela polícia italiana.

A Polícia Federal confirmou a prisão de Zambelli em nota divulgada à imprensa.

"Autoridades italianas prenderam na tarde desta terça-feira (29/7), em Roma, uma brasileira que se encontrava foragida no país. A medida é resultado de cooperação policial internacional entre a Polícia Federal, a Interpol e agências da Itália", disse a PF.

"A presa era procurada por crimes praticados no Brasil e será submetida ao processo de extradição, conforme os trâmites previstos na legislação italiana e nos acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário."

Segundo uma fonte com conhecimento do caso ouvida pela BBC News Brasil em caráter reservado, Zambelli foi presa no apartamento em que estava morando em Roma, localizado em um bairro afastado do centro de Roma, a pouco mais de 11 quilômetros do Coliseu. O local é um conjunto de apartamentos de classe média.

No entanto, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), apresentou uma versão diferente.

Em vídeo publicado em suas redes sociais, Cavalcante afirmou que foi Zambelli quem se entregou à polícia italiana. Segundo ele, a deputada vai "começar seu pedido de asilo político, bem como de não extradição".

Zambelli foi condenada a dez anos de prisão e à perda de mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por invadir sistemas de mandados judiciais do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o auxílio de um hacker. A deputada sempre negou as acusações.

 

A prisão da deputada foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes após ela deixar o país, a pedido da Procuradoria-geral da República (PGR), e seu nome estava na lista de procurados da Interpol. O Ministério da Justiça também havia pedido sua extradição.

A deputada estava na Itália desde o início de junho, afirmou ser uma "exilada política" e que é alvo de uma suposta "perseguição".

Ela também argumentou que estaria protegida de ser extraditada por ter cidadania italiana, embora especialistas tenham contestado sua avaliação.

Zambelli também afirmou que enfrenta problemas de saúde e que "não sobreviveria à prisão".

A deputada pediu licença de seu mandato no início de junho, quando já era considerada foragida, e o prazo se esgota em 2 de outubro.

A reportagem da BBC News Brasil enviou questionamentos à defesa da deputada Carla Zambelli, mas, até o momento, seus advogados não responderam às perguntas enviadas.

O que acontece agora?

A prisão de Zambelli pode ser mais uma etapa do processo de extradição da parlamentar solicitada pela Justiça brasileira.

A fonte ouvida pela BBC News Brasil disse que, agora, a Justiça italiana terá 48 horas para decidir se Zambelli continua presa ou se será liberada mediante algum tipo de medida de monitoramento, entre elas, o eventual uso de tornozeleira eletrônica enquanto aguarda o trâmite do seu processo de extradição.

Ao contrário do Brasil, onde a Constituição proíbe a extradição de brasileiros nascidos em território brasileiro, a Itália permite, em certos casos, a extradição de cidadãos italianos.

"Existe uma falsa sensação de que um nacional italiano não seria deportado. Existem exceções e, inclusive, um precedente envolvendo o Brasil", explicou o advogado e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Frederico Glitz à BBC News Brasil em junho deste ano.

O precedente mencionado por Glitz é o do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. Condenado em 2012 pelo STF por envolvimento no caso do mensalão, ele fugiu para a Itália usando sua cidadania italiana.

Em 2015, no entanto, após um processo judicial e político, foi extraditado para o Brasil. Um dos responsáveis pelo caso foi o procurador da República Vladimir Aras, também ouvido pela BBC News Brasil em junho.

Segundo Aras, a legislação italiana não impede a extradição de seus cidadãos. Ele afirma que a entrega de uma pessoa pode ocorrer caso exista um tratado bilateral com o país requerente, como o acordo Brasil-Itália, ou se o crime estiver previsto em um tratado internacional assinado pela Itália.

"A gente pode citar dois tratados. Um é o tratado bilateral Brasil-Itália. O outro é a Convenção de Budapeste, sobre crimes cibernéticos", explicou Aras.

Segundo ele, o caso de Zambelli se enquadraria em ambas as situações. Ainda assim, o caminho não é automático.

"O pedido [de extradição] é feito pela autoridade brasileira para a Corte italiana. Lá, ele vai ser analisado, julgado e, eventualmente, autorizado. Depois disso, é preciso que se saiba se o pedido será ou não autorizado pelo governo italiano", ressaltou Glitz.

Tanto ele quanto Aras lembram que, assim como no Brasil, a palavra final sobre a extradição cabe ao Poder Executivo. No caso da Itália, ao governo comandado por Giorgia Meloni, considerada próxima ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

O caso de Zambelli, alertaram os especialistas, pode se arrastar por anos.

"Não é rápido e nem fácil. Existem certos obstáculos a vencer. Pode acontecer uma decisão desfavorável aqui ou ali, e pode-se recorrer e reverter", afirma Aras. Ele reforça que "do ponto de vista concreto, é possível extraditar qualquer cidadão ítalo-brasileiro da Itália para cá. Mas isso não significa dizer que é fácil, que é apertar o botão de 'eject'".

( Por BBC)