31 de julho de 2025
Brasil e Poder

MAIA X GUEDES: Rodrigo Maia volta a desmentir e se desentender com Paulo Guedes, mas afirma que grave momento exige “olhar para frente”

Presidente da Câmara disse entender as razões do governo ao reduzir pela metade o valor do auxílio emergencial prorrogado até o final do ano, mas frisou que o governo precisa “trabalhar” a sua base neste sentido

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Paulo Guedes e Rodrigo Maia não se entendem, mesmo!

( Publicada originalmente às 15h 07 do dia 10/09/2020) 

(Brasília-DF, 11/09/2.020) O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), voltou a desmentir e a se desentender nesta última quarta-feira, 9, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem, afirmou na última semana, não teria mais nenhuma relação institucional. Após mais essa fala contra o ministro, Maia procurou tranquilizar os empresários e investidores afirmando que o grave momento em que o país se encontra exige que todos tenham que “olhar para frente”.

A declaração aconteceu em entrevista ao canal televisivo CNN na noite dessa quarta-feira.  A fala ocorreu logo após o ministro Guedes afirmar que os “desalinhamentos” que ambos tiveram seria “natural” devido ao fato dele, ministro, ter que “proteger” os cofres do governo federal de uma reforma tributária que poderia propiciar mais recursos da União para estados e municípios. Em sua fala, Guedes diz que se encontra “enquadrado num regime de política regular” e que não haverá por parte dele mais nenhum “voluntarismo”.

“Eu faço questão de registrar [a atenção e olhar generosa e amiga] do nosso presidente da Câmara, Rodrigo Maia, [que] sempre nos ajudou em todas as reformas. [No entanto] tivemos, agora, um ou outro desalinhamento, mas é natural, porque eu tenho que proteger a União e ele, chegando muito mais próximo da reforma tributária, pensando nos governadores e prefeitos, há um desalinhamento natural”, falou o ministro.

“Eu tenho que dizer [apenas] ao presidente da Câmara o seguinte: olha, eu não posso ficar enviando técnicos meus para bolarem uma reforma com o que já aconteceu e com o que vai acontecer daqui para frente. Eu preciso agora me recolher um pouco e seguir o rito natural do governo. O meu recolhimento é só isso. Não é mais nada pessoal. Eu tenho muita gratidão e faço esse agradecimento ao Rodrigo, mas, agora, estou, entre aspas, enquadrado num regime de política regular. Acabou o meu voluntarismo”, complementando Paulo Guedes.

Esclarecendo

Ao ouvir o depoimento do ministro, Maia procurou esclarecer os fatos. Visto que foi perguntado pela jornalista e âncora do CNN, Daniela Lima, se ele sabia que o ministro estava “enquadrado” pela política.

“Não. Eu não falo com o Paulo Guedes há muito tempo. Eu não entendi o que ele falou que ele falou comigo. Eu não falei com ele. Mas também não estou preocupado com isso. Nós temos muitos problemas. A economia brasileira no ano passado cresceu muito menos do que a gente esperava e o que foi prometido e esse ano ia crescer menos que os 2,5% aprovado no orçamento do final do ano [de 2.019]”, disparou o presidente da Câmara.

“Só que agora a gente precisa olhar para frente. Nós temos problemas graves e se as situações não forem resolvidas nos próximos 60 dias, elas podem gerar um problema muito grande para o orçamento do próximo ano. Nós não podemos nos esquecer que o governo pretende e, de forma correta, atender aos mais vulneráveis e que estão fora do Bolsa Família, só que ainda não conseguiram encontrar o espaço orçamentário para isso. Então, nós temos tantas coisas importantes para olhar, a questão dos estados como foi colocado por ele, não é verdade. Eu nunca tratei de negócio de fundo nenhum. Isso não é uma situação verdadeira!”, complementou.

“Mas não é isso que me preocupa, o que me preocupa é que o governo vai ter um número maior de desempregados que já aumentou e vai aumentar, ainda mais. Nós temos muitas empresas que usaram a Medida Provisória 936 para suspender os contratos de trabalho e que tem compromisso de manutenção dos empregos e a gente não sabe se estas empresas vão ter recursos para pagar os salários desta manutenção de empregos que foi contratada”, completou.

Auxílio emergencial

Na sequência, o presidente da Câmara disse entender as razões que levaram o governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) o reduzir pela metade o valor do auxílio emergencial, de R$ 600,00 nas cinco parcelas iniciais, prorrogado até o final do ano, mas frisou que o governo precisa “trabalhar” a sua base para aprovar o pagamento das próximas quatro parcelas de R$ 300,00.

Mas ele destacou que os parlamentares enfrentam grande pressão das suas bases eleitorais para manter o valor de R$ 600,00 nas demais parcelas e ilustrou que nas suas redes sociais essa pressão é de 82%. E que o parlamento terá muito pouco tempo hábil para resolver todos os problemas urgentes que precisam ser enfrentados.

“Tem os vulneráveis, o governo decidiu reduzir de R$ 600,00 para R$ 300,00 o auxílio emergencial e nós estamos vendo a pressão que já começou em cima de cada parlamentar por causa deste tema. O governo mandou uma proposta [de lei orçamentária] sem cuidar deste auxílio [Renda Brasil] que o governo quer criar e precisa dar soluções. Como eu disse, eu acho que só tem um caminho no curto prazo para que possa organizar o orçamento para cuidar destas famílias que é a PEC emergencial que está [em tramitação] no Senado”, apontou.

“Pelo menos nas minhas redes sociais, 82% querem a manutenção dos R$ 600,00. A gente tem que trabalhar com os dados reais, tanto do que a sociedade demanda, como nas condições do próprio governo. A gente sabe que as condições dos valores [para baixar os] R$ 600,00 não é uma coisa simples, mas cabe ao governo trabalhar a sua base. Mas o tempo é curto. Nós temos alguns meses e uma eleição no meio e se não der solução para organizar os gatilhos do teto de gastos, não reduzir algumas despesas do orçamento, não acabar com a indexação do orçamento para o próximo ano, vai ter muito pouco espaço para se pensar políticas públicas que sejam na área de assistência social, sejam na de investimento”, finalizou.

(por Humberto Azevedo, especial para a Agência Política Real, com edição de Genésio Jr.)