Um limão, uma limonada
Não é mentira! Eduardo Cunha renunciou! Mas é mentira, sim, que ele esteja renunciando ao poder
(Brasília-DF) O dia 7 de julho de 2016 foi escolhido pelo senhor Eduardo Cunha para renunciar a Presidência da Câmara Federal. Nada mais sonoro e cabalístico: são muitos setes juntos ou somados! O sete é tão forte que sete são os pecados capitais, sete são os sacramentos, sete são as pragas do Egito, sete são as cores do arco-íris, sete são as notas musicais. Para a Política, sete é a cara da mentira.
Não é mentira! Eduardo Cunha renunciou! Mas é mentira, sim, que ele esteja renunciando ao poder. Ele quer continuar influenciando, num último suspiro ou “canto do cisne” para escapar da degola, da cassação. Tudo isso se dá às vésperas do governo do presidente, em exercício, Michel Temer, completar 60 dias de vida! Justo quando se tinha a ideia-marco de que era o tempo em que o governo interino teria para dizer a que veio, surge o turbilhão! A escolha de um novo Presidente da Câmara, onde tudo começou(o impeachment)!
O PT não deverá lançar candidato nesta disputa. Isso será a primeira vez em muitas disputas pelo comando da “Casa do Povo”. O novo presidente da Câmara será, em tese, um apoiador do governo interino, o que gera mais pressão sobre um Senado que vai ter a palavra final sobre o destino da presidenta afastada, Dilma Rousseff. Como um Senado poderia dar novo poder a alguém que poder nenhum teria na Casa do Povo? Porém é verdade, também, que pelo que se viu até agora, restam poucas dúvidas que o governo interino, apesar de não querer repetir os mesmos erros - será o grande derrotado nesta disputa.
Um dos lados vencidos nesta disputa imporá revesses ao novo governo. Isso é certo. Agora, o que chama atenção, até o momento, é a presença(ou não) das lideranças nordestinas nesta disputa.
Os grandes jogadores no Planalto, como Geddel Vieira Lima e Moreira Franco não vão entrar(ou fingem) no assunto. O líder do governo, o sergipano André Moura preferiu fazer reuniões políticas em sua terra nesse final de semana. O deputado Marcelo Castro, do PMDB do Piauí, registrou candidatura contando com o apoio dos petistas, ele que foi ministro da presidenta afastada Dilma Rousseff. Fala-se muito da grande capacidade de articulação do deputado Heráclito Fortes, do PSB do Piauí. Ele não lançou candidatura, mas conversa bem com democratas, tucanos, peemedebistas, petebistas entre outros. O que se percebe é que a fortíssima bancada formada por 151 de seus membros estaria fragmentada em face da falta de líderes na chamada Casa do Povo!
Os líderes partidários vindos do Nordeste na gestão da Presidenta Dilma, e muitos fazer parte da atual gestão, a despeito de alguns terem se transformados em membros do Executivo, ministros, foram sendo desmoralizados pela incapacidade da presidenta afastada de lhes emprestar poder.
Os nordestinos estão sem foco nesta disputa. Historicamente, foi fundamental para um Presidente da Câmara e/ou Presidente da República ter uma boa relação com essa gente. No passado, Lula e Fernando Henrique, em seus melhores momentos, tinham, invariavelmente, boa articulação com os chefes da Câmara e os líderes nordestinos. Essas lideranças não existem mais. Eduardo Cunha quando chegou ao poder se encarregou de desmontar isso, tanto pelos seus interesses umbigais como para enfraquecer o Executivo.
Seja o que der, Temer vai ter que saber usar esse limão azedo para transformar numa boa limonada! Às armas!
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
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