Cristal partido!
Passados pouco mais de 4 anos daquela união montada por Lula, ficou evidente que o 5º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, realizado na semana passada em Salvador, tratou de enterrar.
(Brasília-DF) Em 2010, defendi a iniciativa do então Presidente Lula de montar a união do PT com o PMDB para eleger a Presidente Dilma Rousseff. Mesmo que a sequência da história nos mostre razões menores para tal estratagema, não podemos mudar os fatos.
O líder petista vive uma drama para resguardar sua história, porém, venha o que vier, não dá para negar a genialidade da manobra.
Eu lembrava que o PMDB e PT se assemelhavam, guardadas as proporções históricas, ao PSD e ao PTB dos anos 50. Getúlio Vargas, um crítico da democracia liberal, montou a união PSD/PTB e voltou pelos braços do povo dentro do jogo da democracia liberal. Naufragou, é verdade, frente os golpismo udenista. Uma tradição brasileira que teve pleno êxito em 1964.
Passados pouco mais de 4 anos daquela união montada por Lula, ficou evidente que o 5º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, realizado na semana passada em Salvador, tratou de enterrar. Formalmente, a “Carta de Salvador”, documento que o PT formalizou ao final do encontro - não defendeu o fim dessa união, porém um grupo de 37 deputados federais dos 63 do partido assinaram outra carta, a da corrente Mensagem ao Partido, que prevê mudanças no arco de alianças, com foco nos partidos de esquerda. Por pouco não se aprovou o rompimento com o partido, considerado de direita.
No domingo, o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha(PMDB-RJ), que foi detratado por militantes durante o evento de três dias na Capital baiana, fez ironias e duras críticas ao PT. Ele disse: “No momento temos compromisso com o País e a estabilidade, mas isso não quer dizer que vamos nos submeter a humilhação do PT”. Ele passou boa parte da manhã tuitando sobre as diretas e indiretas que vieram do Congresso do PT.
“E realmente ficaria preocupado se eles me aplaudissem, porque seria sinal que eu estaria fazendo tudo errado”, escreveu, irônico, no microblog. Cunha disse mais sobre a relação com o PT: “Talvez tivesse sido melhor que eles aprovassem no congresso o fim da aliança e não sei se num congresso do PMDB terão a mesma sorte”, arrematou.
A união montada por Lula em 2010 não tem mais futuro. As razões que uniram esses dois partidos eram como um cristal que se partiu. A união PSD-PTB dos anos 50 mirava unir um país em crise do Pós-guerra, que precisava voltar a crescer. A união PT-PMDB se fez em nome da aposta venturosa daqueles anos em que a política anticíclica fez o País se manter crescendo em meio a crise mundial. Já se fala que a crise de 2008 estaria rediviva. Se especula que a China deverá crescer abaixo de 7%. Em tese, momentos como esse, mesmo com o pluripartidarismo brasileiro não permitem mais condições para uma nova união daquele tipo.
O quadro político de 2018 caminha, guardadas novas proporções, para algo muito parecido com 1989. O racha do PT com o PMDB deverá impor o mesmo nas oposições.
A manutenção da Crise Mundial, agora em novos patamares, tende a garantir que mesmo que o segundo governo Dilma Rousseff melhore, frente ao patamar que hoje vemos, não haverá espaço para grandes acordos como o visto em 2010 e mantido em 2014. Reforcem as apostas!
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
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