Para entender os personagens do momento
O senador Renan Calheiros é alagoano - é bom lembrar que foram os alagoanos, e não o também ferozes pernambucanos, que entraram na Cova de Angicos(SE), fuzilaram e decapitaram Virgulino Ferreira da Silva. Mexa com um homem, mas não mexa com um alagoano, d
(Brasília-DF) É impressionante como no Dia do Trabalho, um partido que ganhou notoriedade por se chamar Partido dos Trabalhadores, e está oficialmente no poder - vive o que observamos nesse primeiro final de semana de maio. A chefe de Estado, Dilma Rousseff, filiada ao PT, evitou falar em cadeia nacional de rádio e televisão, uma tradição trabalhista. Os mais pragmáticos dizem que mais que evitar as manifestações, o que estava em jogo foi o nada a mostrar para os brasileiros que têm carteira assinada. No mesmo dia, o Presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros(PMDB-AL), vai na tevê e propõe um Pacto pelo Emprego.
Para completar, na semana, veremos os Partido dos Trabalhadores votar pela redução de garantias trabalhistas que por toda vida lutou por mantê-los, mas estou aqui para falar de Renan Calheiros, este nordestino que se projeta neste momento e revela a cara do novo poder devidamente aboletado no Parlamento, que por tanto tempo foi visto como o patinho feio dos tradicionais três poderes da República.
Uma vez, ainda jornalista novato em Brasília, consegui a proeza de virar caronista num vôo cheio de políticos que faziam um tour pelo Nordeste tentando convencer os peemedebistas a não votarem pelo apoio à reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Esse mesmo grupo , alguns anos depois apoiou a eleição de Lula, em 2002. Fiquei numa cadeira ao lado do então senador Pedro Simon(PMDB-RS). Queria entender as razões das diferenças dele com o então senador José Sarney(PMDB-AP), à época apoiando a reeleição de FHC. Ele resumiu: Genésio, nós gaúchos, campeando na ravina, lutamos à Céu aberto com faca na bota, enquanto Sarney luta com faca cega no escuro.
O senador Renan Calheiros é alagoano - é bom lembrar que foram os alagoanos, e não o também ferozes pernambucanos, que entraram na Cova de Angicos(SE), fuzilaram e decapitaram Virgulino Ferreira da Silva. Mexa com um homem, mas não mexa com um alagoano, diz-se no Nordeste. Sarney, um nordestino do Meio Norte, acostumado às sombras de bacurizais, piquizeiros e carnaubais, ganhou com a coragem de cangaceiro de Renan Calheiros o seu melhor aríete nos piores momentos da vida republicana recente. Sarney se juntou a força de Calheiros para viver melhor, por anos. Só um alagoano como Calheiros, que fez um percurso pelas esquerdas, ele foi de movimento estudantis pelo PC do B, poderia, num momento como este, fazer o que faz.
Renan Calheiros está sendo investigado no Supremo Tribunal Federal, é um dos sócios, até que se prove contrário, da grande corrupção que foi revelada pela Operação Lava Jato, porém frente às severas contradições petistas e as incapacidades da Presidenta Dilma Rousseff ganha uma dimensão política formidável, criando fatos novos e deixando todos incrédulos com mais uma exibição de coragem calculada no limite de uma trema de costureira da cidade de Murici.
Calheiros é uma prova viva de que para ser grande na política brasileira, para o bem e para o mal, é necessário ter uma percurso mínimo no Parlamento, gostemos dele ou não!
Eis o mistério da fé
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
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