Ser rico dá trabalho
A coluna de Genésio Araújo JR é publicada todos os domingos neste espaço
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(Fortaleza-CE) Contradições da política sempre foram um dos motivos que muitos usaram para duvidar que se pudesse escrever Política com “P” maiúsculo.
Começamos esta estação sob o signo da chegada da responsabilidade em detrimento de seu antônimo. Os petistas mais próximos de Lula reclamavam, entredentes, que não era bem assim. Elogios da grande mídia vieram para destacar o novo perfil da principal ocupante do Palácio do Planalto.
Agora em março - não os das “Águas de...” de Tom Jobim, mas os idos de Shakespeare em “Júlio César” – temos que lidar com a divulgação de um Produto Interno Bruto,PIB, de 7,5 % em 2010. Empresas de “ratings” já anunciam que o PIB brasileiro nos colocará neste ano em sétimo lugar entre as oito maiores economias do Planeta.
Logo após a divulgação, o pessoal da economia do Governo Federal e a própria Presidenta Dilma falaram do assunto. Eles anunciam que não teremos números assim tão cedo, que não existe superaquecimento da economia e que os acertos estão sendo feitos.
Não precisa ser um especialista em economia, um ex-aluno de Celso Furtado ou Octávio Bulhões para fazer grandes elocubrações. É inequívoco que existe uma inflação de demanda no Brasil. É a velha lei da oferta e procura. O governo e todos os seus defensores, e adversários, sabem disso.
A inflação de demanda se dá muito fortemente pelo aumento da renda de uma população que está tentendo recompor seu déficit de consumo de muitas décadas passadas. O Brasil cresce - são os mais pobres que mais gostam disso, apesar dos ricos também adorarem.
Os nordestinos por serem os mais pobres do Brasil, com 50 milhões de consumidores e 20 milhões vivendo no inóspito Semi Árido - são, em tese, os mais favorecidos com a manutenção na onda de crescimento. Antigamente, se falava em “imposto inflacionário”. Os muitos jovens que nasceram sob a regra da estabilidade econômica não sabem o impacto que de dá a uma sociedade que além de arcar os impostos normais ainda tem que suportar a danada da inflação. No fim da semana passada, o Dieese também divulgou seus números e revelou que os preços dos alimentos básicos caíram mais que subiram. A cidade de Fortaleza, conhecida por uma cesta básica bastante acessível, uma das mais baratas do Brasil durante vários anos do Governo Lula - viveu um avanço de 20% ao longo dos últimos 12 meses. A tendência é que reduza.
A redução da atividade econômica pela redução dos investimentos públicos que fará com que o setor privado também freie suas ações, em tese, será mais dura no Nordeste. A Presidenta Dilma disse que o Nordeste tem que continuar crescendo acima da média nacional. São fluxos e contrafluxos da contradição da Política tocada pela economia.
Os nordestinos, os pobres, sempre sofrem mais no jogo macroeconômico, mas o que seria pior entre esses remédios que nos apresentam: redução da atividade ou inflação? Fiquem certos que saberemos em breve, mas fiquem certos, também, que os que são mais ricos nessa escala de poderosos estão vivendo esta loucura de ficar igual cachorro corendo atrás do rabo.
Estamos aprendendo que ser rico dá trabalho.
Eis o mistério da fé.
Por Genésio Araújo Junior, jornalista
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