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  • Contato Brasil, 07 de junho de 2025 09:54:07
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  • 06/06/2025 06h39

    Lula recebe homenagem dos “imortais” da Academia Francesa com medalha de honra que só Dom Pedro II recebeu

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    Foto:Ag Gov

    Lula recebe medalha de honra na Academia Francesa

    ( Publicada originalmente às 17 h 00 do dia 05/06/2025) 

    (Brasília-DF, 06/06/2025) O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na França, foi homenageado pelos Imortais da Academia Francesa.  O presidente Lula recebeu uma medalha de honra concedida a apenas 19 chefes de Estado ao longo de 400 anos, entre eles o imperador Dom Pedro II, em 1872. “A ligação entre a ABL e a Academia Francesa é testemunho da comunhão de mentalidades entre dois países que entendem que a palavra, para seguir plena e viva, precisa de instituições que a cultivem, a promovam e a defendam”, afirmou o presidente Lula durante seu discurso oficial

    “A Academia Brasileira de Letras (ABL) nasceu do sonho de intelectuais brasileiros de criar, nos trópicos, um espaço de reflexão e criação semelhante ao da Academia Francesa”, disse Lula Foi aodefinir a profunda e respeitosa relação cultural entre Brasil e França ao ser recebido e homenageado.

    O modelo e os princípios da ABL, fundada em 1897, a concessão do título de “Imortal” a seus membros e outras características foram inspirados diretamente no modelo francês. “À frente desse projeto estava um homem extraordinário: Machado de Assis. Neto de escravizados, autodidata, uma das maiores inteligências literárias da modernidade.”

    O presidente Lula declarou, com emoção: “Eu queria dizer aos membros da Academia que vocês estão homenageando um cidadão brasileiro que não é acadêmico. Eu nasci numa região muito pobre em meu país, o Nordeste brasileiro. Eu só tenho um diploma primário e um curso técnico. O restante eu aprendi na vida, para sobreviver. Queria dizer para vocês que eu estou muito orgulhoso em ser o segundo brasileiro a ser homenageado nesta Academia”. A mensagem foi publicada nas redes sociais do presidente.

    Com enfoque na importância dos idiomas português e francês, ambos oriundos do latim, o encontro também marcou a inclusão da palavra “multilateralismo” (multilatéralisme) no dicionário francês. Além disso, reconheceu as contribuições essenciais do tupi-guarani, do quimbundo e do iorubá – “trazidas nos porões da escravidão” – para a língua portuguesa atual. “O termo já ganhou os dicionários do Brasil, mas ainda não figura no dicionário da Academia Francesa”, explicou o presidente Lula.

    Veja a íntegra do discurso de Lula no evento:

    Foi com satisfação que aceitei o convite para me dirigir a esta Academia, que há quase quatro séculos guarda com zelo e rigor a língua francesa.

    Tenho a honra de ser o segundo governante brasileiro a ocupar esta tribuna.

    A presença de Dom Pedro II nesta casa há 153 anos é testemunho de quão antigo é o interesse recíproco de nossos países.

    O Brasil que retorna hoje é republicano e democrático, mais diverso e plural.

    Ao longo desse período, a consolidação da República brasileira bebeu das fontes do iluminismo francês.

    Da separação de poderes ao direito civil e administrativo, passando pelo lema inscrito em nossa bandeira – “Ordem e Progresso” –, o legado da França se fez sentir na organização do Estado brasileiro.

    Os ideais da Revolução Francesa continuam ecoando na vida política nacional e em outras partes do mundo.

    Desde o século dezenove, o olhar dos viajantes franceses sobre o Brasil tem levado meu país a enxergar a si mesmo.

    Exemplo disso foi a missão artística francesa de 1816, que teve um papel fundamental em nossa formação cultural.

    No caminho inverso, a produção brasileira tem sido acolhida com interesse e entusiasmo pelo público francês, em um processo de fertilização cruzada que enriquece os dois países.

    Artistas, músicos, arquitetos e cineastas brasileiros tiveram suas obras aclamadas nas galerias e salões parisienses, deixaram suas marcas nas ruas e prédios da cidade-luz e foram premiados em Cannes.

    A fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, também foi expressão dessas afinidades.

    A ABL nasceu do sonho de intelectuais brasileiros de criar, nos trópicos, espaço de reflexão e criação semelhante ao da Academia Francesa.

    À frente desse projeto estava um homem extraordinário: Machado de Assis.

    Neto de escravizados, autodidata, foi uma das maiores inteligências literárias da modernidade.

    Machado não apenas fundou a ABL, como presidiu a instituição por mais de dez anos, sendo celebrado por seus pares e admirado por críticos franceses.

    A ligação entre a ABL e a Academia Francesa é testemunho da comunhão de mentalidades entre dois países que entendem que a palavra, para seguir plena e viva, precisa de instituições que a cultivem, a promovam e a defendam.

    A língua portuguesa, como a francesa, nasceu do latim — essa língua-mãe que moldou nossa forma de dizer o mundo.

    A variedade brasileira do português é fruto de um processo linguístico profundamente marcado pela história.

    Ao português europeu veio se somar a família linguística tupi-guarani, faladas pelos povos indígenas que primeiro habitaram nossa terra.

    Também se mesclaram as línguas africanas, como o iorubá e o quimbundo, trazidas nos porões da escravidão.

    Nossa língua, como toda língua viva, continuou a se reinventar ao longo dos séculos, acolhendo os falares de milhões de imigrantes vindos de todas as partes do mundo: italianos, alemães, árabes, japoneses, espanhóis e franceses.

    Cada um desses grupos legou ao Brasil sua cadência, suas palavras, sua alma.

    Essa confluência de vozes e de vivências – muitas vezes apagadas, mas nunca silenciadas – moldou uma língua plural, mestiça, que carrega em sua sonoridade a memória e as lutas de um país inteiro.

    Por isso, falar da língua portuguesa no Brasil é falar de resistência, de reinvenção e superação.

    Vivemos diariamente o desafio de fazer da cultura uma política de Estado – e não apenas de governo.

    O acesso aos livros, à música, ao cinema e à arte em suas múltiplas formas deve ser direito de todos, e não privilégio de poucos.

    A França é um exemplo para os que defendem a diversidade cultural através de regulamentação democrática e robusta.

    A cultura nunca é, e nem deve ser, estática. Ela revela, questiona e transforma.

    Em tempos de extremismos, de intolerância, de simplificações violentas e de discursos de ódio, a cultura – com sua complexidade e beleza – nos ensina a escutar e a conviver.

    É ela quem nos convida a habitar futuros possíveis, para construir coletivamente o que antes apenas ousamos imaginar.

    Não é coincidência, portanto, que a cultura seja sempre uma das primeiras vítimas de projetos autoritários.

    As guerras culturais, travadas contra instituições artísticas e universitárias, são tentativas de sufocar o pensamento crítico e impor visões de mundo estreitas e limitantes.

    Elas se aproveitam do modelo de negócios das plataformas virtuais, que monetizam a mentira e a ignorância e dão mais valor a “likes” do que à dignidade humana.

    Mesmo em tempos tão desafiadores como os atuais, a palavra ainda pode ser ponte.

    Ela permanece como o principal instrumento para a compreensão mútua e para a construção democrática, dentro e fora das nações.

    Nas relações internacionais, a palavra é a arma da diplomacia. Seu campo de batalha são as instituições multilaterais.

    Por isso, não há termo mais oportuno e necessário a se discutir, hoje, do que “multilateralismo”.

    Tenho certeza de que a continuidade de nosso debate hoje sobre essa palavra será muito proveitosa.

    Reitero meu agradecimento a este convite porque sei que esta Academia o fez como gesto de reconhecimento ao Brasil e seu povo, que acreditam na força transformadora da palavra.

    Muito obrigado.

    ( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)

     

     

     

     

     

     


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