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- Contato Brasil, 23 de junho de 2025 02:10:10
( Publicada originalmente às 13h 40 do dia 14/05/2025)
(Brasília-DF, 15/05/2025) O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez sua primeira viagem internacional como chefe de Estado e de Governo para a cidade de Riad, capital da Arábia Saudita, para participar da reunião do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), a convite do príncipe herdeiro saudita, Mohammed Bin Salman.
Porém, à margem do encontro, com direito a participação do presidente turco Recep Tayyip Erdoğan através de uma chamada telefónica, presidente Trump se reuniu com o presidente interino da Síria, Ahmad al-Sharaa, na Arábia Saudita, nesta quarta-feira. Foi o primeiro encontro entre os líderes das duas nações em 25 anos e um encontro histórico que viu Trump abrir caminho para o alívio das sanções.
A reunião representa uma mudança significativa para a Síria, que está a tentar traçar um novo caminho após a destituição de Bashar al-Assad do poder no ano passado.
Após a reunião dos dois homens, Trump disse ao CCG que iria "ordenar o fim das sanções contra a Síria para lhes dar um novo começo".
"Vamos dar-lhes uma oportunidade de serem grandes. As sanções eram realmente incapacitantes, muito poderosas", disse o presidente norte-americano.
Por sua vez, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Síria disse que Trump e al-Sharaa discutiram como os EUA e a Síria poderiam fazer parcerias para combater grupos como o chamado Estado Islâmico (EI) que ameaçam a estabilidade da região.
Em Damasco, milhares de pessoas em várias cidades aplaudiram nas ruas e lançaram fogos-de-artifício na noite de terça-feira para celebrar o fim das sanções, na esperança de que a nação, há muito excluída do sistema financeiro global, possa voltar a integrar a economia mundial.
O encontro cara a cara entre Trump e al-Sharaa nesta quarta-feira foi especialmente digno de nota, uma vez que o líder sírio tinha anteriormente ligações à Al-Qaeda e tinha-se juntado aos rebeldes que combatiam as forças norte-americanas no Iraque antes do início do conflito sírio em 2011. Durante vários anos, as tropas americanas chegaram a mantê-lo em cativeiro.
Contra vontade de Israel
A reunião se realizou apesar de o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter aconselhado Trump a não levantar as sanções contra a Síria, o que levou a insinuações de uma fratura crescente entre a Casa Branca e o governo israelita, numa altura em que prossegue a guerra mortífera na Faixa de Gaza.
Como correu o encontro histórico?
De acordo com a Casa Branca, a reunião de Trump com al-Sharaa decorreu à porta fechada e durou pouco mais de 30 minutos.
Em comunicado, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que Trump apelou a al-Sharaa para que "diga a todos os terroristas estrangeiros para abandonarem a Síria", reconheça diplomaticamente Israel e ajude os EUA a impedir o ressurgimento do EI.
"Senti fortemente que isto lhes daria uma oportunidade", disse Trump sobre a Síria. "Foi uma honra para mim fazê-lo", acrescentou.
Líderes árabes apoiam al-Sharaa
Na quarta-feira, Trump atribuiu a sua decisão de levantar as sanções à Síria, em grande parte, à intervenção do príncipe herdeiro da Arábia Saudita Mohammed bin Salman Al Saud: "Fizemos um discurso ontem à noite e isso recebeu o maior aplauso da sala", disse Trump. O príncipe saudita elogiou a decisão num discurso perante o CCG, afirmando que "irá aliviar o sofrimento do povo sírio".
Antes da guerra civil, que começou em 2011, a Síria se debatia com uma economia fortemente controlada e planejada pelo Estado e com sanções impostas pelos EUA, que a consideraram pela primeira vez um Estado patrocinador do terrorismo em 1979.
Os analistas acreditam que a abertura de Trump a Damasco pode marcar um ponto de viragem para o novo governo, que é apoiado por muitos líderes árabes.
Quando Trump se preparava para deixar Riade, nesa quarta-feira, o líder norte-americano elogiou al-Sharaa perante os jornalistas, dizendo que se tratava de um "homem jovem e atraente. Um tipo duro. Passado forte. Um passado muito forte. Um lutador".
"Ele tem uma hipótese real de se manter firme", disse Trump. "É um verdadeiro líder. Liderou uma ofensiva, e é bastante espantoso."
Quem é Ahmed al-Sharaa
Ahmed al-Sharaa disse à emissora americana PBS que sua família síria veio da área de Golã.
Ele também afirmou que nasceu em Riade, capital da Arábia Saudita — onde seu pai trabalhava na época — e que cresceu em Damasco.
No entanto, também há relatos de que ele nasceu em Deir ez-Zor, no leste da Síria, e há rumores vagos de que ele estudou Medicina antes de se tornar um militante islâmico.
De acordo com relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Europeia (UE), ele nasceu em algum momento entre 1975 e 1979.
Acredita-se que al-Sharaa tenha se juntado ao grupo jihadista Al-Qaeda no Iraque após a invasão do país em 2003 por uma coalizão de forças liderada pelos EUA.
A coalizão rapidamente removeu o presidente Saddam Hussein e seu Partido Baath do poder, mas enfrentou resistência de diversos grupos militantes.
Em 2010, as forças dos EUA no Iraque prenderam al-Sharaa e o mantiveram em Camp Bucca, uma base perto da fronteira com o Kuwait.
Lá, acredita-se que ele conheceu jihadistas que mais tarde formariam o grupo Estado Islâmico (EI), incluindo o futuro líder do EI no Iraque, Abu Bakr al-Baghdadi.
Al-Sharaa disse à mídia que depois que o conflito armado eclodiu na Síria contra o governo do presidente Bashar al-Assad em 2011, al-Baghdadi ordenou que ele fosse ao país para iniciar um braço da organização lá.
Ele se tornou comandante de um grupo armado chamado Frente Nusra (ou Jabhat al-Nusra), que era secretamente afiliado ao EI. O grupo foi muito bem-sucedido no campo de batalha.
Em 2013, al-Sharaa cortou os laços da Frente Nusra com o EI e colocou seu grupo sob controle da Al-Qaeda.
No entanto, em 2016, ele anunciou em uma mensagem gravada que também havia rompido com a Al-Qaeda.
Em 2017, al-Sharaa disse que seus combatentes haviam se unido a outros grupos rebeldes na Síria para formar o Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
Sob o comando de al-Sharaa, o HTS se tornou o principal grupo rebelde em Idlib e arredores, no noroeste da Síria.
A cidade tinha uma população antes da guerra de 2,7 milhões, que, segundo algumas estimativas, aumentou para 4 milhões devido à chegada de pessoas deslocadas.
Em dezembro do ano passado, Bashar al-Assad foi deposto e al-Sharaa se tornou o líder da Síria.
( da redação com informações da Euro News, AP e BBC.. Edição: Política Real)