- Cadastre-se
- Equipe
- Contato Brasil, 29 de abril de 2025 19:04:20
( Publicada originalmente às 17h 00 do dia 28/04/2025)
(Brasília-DF, 29/04/2025). Nesta segunda-feira, 28, o Vaticano anunciou que o conclave para eleger o sucessor do papa Francisco se realizará em 7 de maio de 2025. O voto secreto será adiado em dois dias a fim de permitir que os cardeais se conheçam melhor e encontrem um consenso, antes de se isolarem na Capela Sistina.
Indagado pela imprensa sobre o clima na sala de reuniões, o argentino Ángel Sixto Rossi, de 66 anos, comentou: "Há esperança de unidade." Arcebispo de Córdoba, ele foi ordenado cardeal por Francisco em 2023.
Diversos cardeais mencionaram o desejo de manter o foco pastoral do pontífice na justiça social, nas mulheres, homossexuais e outros indivíduos marginalizados, e contra a guerra. Por sua vez, as alas conservadoras visam reconduzir a Igreja Católica às doutrinas nucleares enfatizadas pelos antecessores São João Paulo 2º e Benedito 16.
O britânico Vincent Nichols, de 79 anos, arcebispo de Westminster, enfatizou à agência de notícias AP a necessidade de buscar a unidade, e minimizou as divisões: "O papel do papa é essencialmente de nos manter coesos, e essa é a graça que recebemos de Deus." O cardeal venezuelano Baltazar Enrique Porras Cardozo expressou confiança que, tão logo o conclave comece, a decisão será rápida, "entre dois ou três dias".
Incerteza sobre eleitores e um cardeal condenado
O termo que designa o processo de escolha do novo pontífice deriva do latim con clave, "com chave", referindo-se à tradição de encerrar os cardeais numa sala até que alcancem a maioria necessária. Tendo prestado juramento de sigilo, eles se isolam do mundo até chegar à decisão final, sem acesso a jornais, televisão, rádio, telefones ou computadores.
O atual Colégio Cardinalício tem um total de 135 membros. Deles, 108 foram escolhidos por Francisco ao longo de seus 12 anos de pontificado – os últimos 20 em dezembro de 2024 –, em cantos extremos do mundo, com o fim de introduzir novos pontos de vista na hierarquia da Igreja Católica.
O fato de que muitos passaram pouco ou nenhum tempo em Roma, sem poder conhecer seus colegas, é um elemento extra de incerteza num processo que exige dois terços de concordância em torno de um único candidato. Porém só aqueles abaixo de 80 anos podem votar, e ainda não está claro quantos participarão.
Um dignitário espanhol já anunciou que não irá a Roma por razões de saúde, e uma grande incerteza é se Giovanni Angelo Becciu, que já foi um dos homens mais poderosos do Vaticano, será admitido à Capela Sistina. Acusado de desfalque e fraude financeira, em 2020 foi instado pelo papa a renunciar ao cargo de prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e a seus direitos cardinalícios.
Apesar de negar qualquer culpa, em dezembro de 2023 Becciu foi condenado a cinco anos e meio por fraude. Ele está apelando da sentença e, apesar de listado como "não eleitor", insiste em seu direito de votar e participou dos encontros pré-conclave.
Papel da África e aposta na harmonia
No diversificado Colégio Cardinalício composto por Francisco, o grupo de 18 prelados da África atrai especial atenção. Em 2024 eles formaram uma frente notavelmente unida contra a abertura do papa para os indivíduos LGBTQ+, recusando-se a implementar sua declaração que permitiria a bênção a uniões homossexuais. Portanto se especula se os africanos contribuirão para impedir que desponte um candidato papal progressivo.
Para além de eventuais facções, o sul-americano Ángel Rossi aposta na causa comum: "Quem quer que seja eleito tem que ser o sucessor de São Pedro, e todos nós esperamos que vá ser um bom papa." Além disso, está seguro que a mensagem de Francisco de "misericórdia, proximidade, caridade, ternura e fé" os acompanhará.
Apesar disso, Rossi reconhece que é intimidadora a tarefa de encontrar um sucessor para o tão carismático religioso morto em 21 de abril. Indagado pela AP sobre como se sentia ao participar de seu primeiro conclave, respondeu com um riso: "Com medo."
Como vai ser
Não há previsão de conclusão do Conclave, naturalmente, e entre os próprios cardeais eleitores há aqueles que esperam um Conclave curto, considerando também o Jubileu em andamento, e aqueles que, ao contrário, preveem tempos mais longos para permitir que os cardeais “se conheçam melhor”, tendo Francisco, em seus 10 Consistórios, agregado ao Colégio Cardinalício purpurados de todos os cantos do globo.
As normas da Universi Dominici Gregis
O cronograma para o início do Conclave é estabelecido pelas normas da constituição apostólica de João Paulo II, Universi Dominici Gregis, atualizada por Bento XVI com o Motu Proprio de 11 de junho de 2007 e com a mais recente de 22 de fevereiro de 2013. De acordo com a Constituição, o Conclave - do latim cum clave, que significa fechado à chave - começa entre o 15º e o 20º dia após a morte do Papa, depois dos Novendiali, os 9 dias de celebrações em sufrágio do Pontífice falecido. Mais detalhadamente, a partir do momento em que a Sé Apostólica é legitimamente vacante, os cardeais eleitores presentes devem esperar 15 dias completos pelos ausentes, até um máximo de 20 dias, se houver motivos sérios. O Motu Proprio Normas nonnullas, além disso, dá ao Colégio de Cardeais a faculdade de antecipar o início do Conclave se todos os eleitores estiverem presentes.
Cardeais das partes mais distantes do mundo ainda são esperados em Roma nestes dias. Na Cidade Eterna, eles serão hospedados na Casa Santa Marta, a Domus do Vaticano onde Francisco decidiu morar, renunciando ao apartamento papal.
A missa “pro eligendo Pontifice” e a procissão para a Sistina
Na manhã da quarta-feira, 7 de maio, todos concelebrarão a solene missa “pro eligendo Pontifice”, a celebração eucarística presidida pelo decano do Colégio Cardinalício, que convidará os irmãos a se dirigirem à Sistina à tarde com estas palavras: “toda a Igreja, unida a nós na oração, invoca constantemente a graça do Espírito Santo, para que seja eleito por nós um digno Pastor de todo o rebanho de Cristo”.
Dali, então, a evocativa procissão até a Capela Sistina, dentro da qual os cardeais entoarão o hino Veni, creator Spiritus e farão o juramento. Será necessária uma maioria qualificada de dois terços para eleger o Papa. Haverá quatro votações por dia, duas pela manhã e duas à tarde, e após a 33ª ou 34ª votação, no entanto, haverá um segundo turno direto e obrigatório entre os dois cardeais que receberam mais votos na última votação. Mesmo nesse caso, no entanto, sempre será necessária uma maioria de dois terços. Os dois cardeais restantes não poderão participar ativamente da votação. Se os votos para um candidato atingirem dois terços dos eleitores, a eleição do Papa será canonicamente válida.
A eleição do novo Papa
Nesse momento, o último da ordem dos Cardeais diáconos convoca o mestre das Celebrações Litúrgicas e o secretário do Colégio Cardinalício. Ao recém-eleito será questionado: Acceptasne electionem de te canonice factam in Summum Pontificem? (Aceita a sua eleição canônica como Sumo Pontífice?) e, em caso afirmativo, será perguntado: Quo nomine vis vocari? (Como quer ser chamado?), pergunta à qual responderá com seu nome pontifício. Após a aceitação, as cédulas são queimadas, de modo que a clássica fumaça branca poderá ser vista da Praça São Pedro. No final do Conclave, o novo Pontífice se retira para a “Sala das Lágrimas”, ou seja, a sacristia da Capela Sistina, onde vestirá pela primeira vez os paramentos papais - preparados em três tamanhos - com os quais se apresentará à multidão de fiéis na Praça São Pedro.
Após a oração pelo novo Pontífice e a homenagem dos cardeais, o Te Deum é entoado, marcando o fim do Conclave. Em seguida, o anúncio da eleição, o Habemus papam e a aparição do Papa que dará a solene bênção Urbi et Orbi.
( da redação com AP,AFP.DPA, Vatican News. Edição: Política Real )