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  • 30/01/2025 06h35

    ESPECIAL: Como a China poderá ganhar, mais ainda, com a tensão da América Latina com Donald Trump

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    Foto: Ricardo Stuckert/ imagem de streaming

    Lula e Xi Jinping

    ( Publicada originalmente às 16h 00 do dia 29/01/2025) 

    Com BBC

    A crescente tensão entre o novo governo dos Estados Unidos, com Donald Trump à frente da Casa Branca, e a América Latina, é uma ótima notícia para a China, avaliam especialistas consultados pela BBC News Brasil.

    As decisões do novo presidente americano de congelar programas de ajuda, bloquear refugiados e ampliar a deportação de migrantes — assim como a mais recente crise diplomática com a Colômbia — são apenas parte do problema, afirma Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisador afiliado do think-tank Carnegie Endowment for International Peace, em Washington D.C..

    Segundo o especialista, as ameaças feitas por Trump em relação à Groenlândia, o Canal do Panamá e o Golfo do México, assim como a decisão de classificar cartéis de drogas mexicanos como organizações terroristas, aprofundam a desconfiança em relação aos Estados Unidos e devem empurrar as lideranças latino-americanas para uma nova estratégia de alianças.

    E a China pode ser uma das grandes beneficiadas.

    "A resposta agressiva de Trump [à crise com a Colômbia] tem um custo e permite que a China se apresente como um parceiro mais previsível e menos intervencionista do que os Estados Unidos", avalia Stuenkel.

    'O melhor momento das relações'

    Durante a disputa entre Estados Unidos e Colômbia, o embaixador da China em Bogotá, Zhu Jingyang, aproveitou para postar em suas redes sociais uma entrevista dada ao jornal El Tiempo na semana anterior.

    Zhu destacou o fato de China e Colômbia estarem "no melhor momento" de suas relações diplomáticas, que completam 45 anos.

    Interlocutores e analistas imediatamente interpretaram a postagem como um sinal de que a diplomacia chinesa acompanha de perto os últimos desenvolvimentos - e está pronta para ampliar sua cooperação não apenas com o governo colombiano, mas com toda a América Latina.

    Posteriormente, o embaixador Zhu Jingyang pediu que não tirassem suas declarações de contexto e ressaltou que a declaração havia sido dada uma semana antes das disputas sobre a deportação de migrantes.

    Quando questionada sobre a posição da China em relação ao tema, Mao Ning, uma das porta-vozes do Ministério de Relações Exteriores da China, disse que este era um assunto a ser discutido apenas entre EUA e Colômbia.

    Ainda assim, especialistas veem o momento como uma oportunidade para a China expandir ainda mais seus investimentos e sua influência.

    David Castrillon Kerrigan, professor-pesquisador da Universidade Externado da Colômbia, explica que a expansão da presença chinesa na América Latina já é uma realidade há pelo menos duas décadas.

    Até 2000, o mercado chinês representava menos de 2% das exportações da América Latina.

    Hoje, a China é o principal parceiro comercial da América do Sul e o segundo maior da América Latina, depois dos Estados Unidos.

    Essa parceria têm se expandido tanto que alguns economistas preveem que o comércio entre China e América Latina pode ultrapassar US$ 700 bilhões até 2035.

    "As relações entre China e América Latina já estão institucionalizadas e continuariam se expandido independente de quem estivesse na Casa Branca", diz Kerrigan, que estuda as relações sino-latino-americanas.

    "Mas obviamente ter Donald Trump no governo fez com que o cálculo dos países latino-americanos mudasse."

    Segundo o especialista, as lideranças da região se preocupam com a desarmonia entre suas agendas e àquelas propostas pelo atual presidente americano, especialmente em temas como combate às mudanças climáticas, combate ao tráfico internacional de drogas e desenvolvimento do Sul Global.

    E isso tudo só aprofunda um desejo já existente da América Latina de diversificar seus aliados e passar a depender menos dos Estados Unidos, diz David Castrillon Kerrigan.

    "Os países latino-americanos estão se voltando para quem estiver disponível para cooperar, seja em termos de desenvolvimento, de infraestrutura ou de outras questões. E a China é um desses países."

    Nos últimos anos, o governo chinês assinou acordos de livre comércio com Chile, Costa Rica, Equador, Nicarágua e Peru — e as negociações sobre um acordo com o Uruguai fracassaram após oposição do Mercosul.

    Pequim também expandiu sua presença cultural, diplomática e militar por toda a região. Mais recentemente, inaugurou um megaporto no Peru como parte da sua iniciativa estratégica Nova Rota da Seda.

    O projeto chinês vem sendo implementado há anos e tem entre os seus objetivos aumentar a presença e a influência chinesa no mundo.

    Ao menos 22 países na América Latina e no Caribe já se juntaram à iniciativa e a Colômbia anunciou planos de fazer o mesmo em breve.

    Os chineses vêm cortejando o Brasil a aderir ao projeto há anos, mas o governo resistiu até agora.

    Ainda assim, o país é, de longe, o principal parceiro comercial da China na América Latina.

    E é possível que esta relação continue a crescer, a julgar pelos 15 acordos comerciais bilaterais avaliados em cerca de US$ 10 bilhões (R$ 51 bilhões), que foram assinados pelos dois países durante a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China, em 2023.

    'Trump está ajudando política externa chinesa'

    Para Evandro Carvalho, professor da FGV Direito Rio e especialista em economia e governança chinesa, a oscilação na política externa americana também pode estar empurrando as lideranças latino-americanas em direção à China.

    "É como uma gangorra. No primeiro mandato, Trump apostou em uma política totalmente individualista e focada nos interesses estadunidenses. Depois Biden recupera o discurso do multilateralismo, só para Trump voltar e desfazer tudo", diz Carvalho, que destaca a retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Acordo de Paris para o clima como parte da reversão liderada pelo republicano.

    Segundo o analista, essa instabilidade é uma "sinalização péssima" para o resto do mundo e, em especial, para os países em desenvolvimento, que são bastante dependentes do multilateralismo e das organizações internacionais para avançar seus interesses.

    O professor da FGV Direito Rio acredita ainda que a retórica de Trump em relação à imigração ilegal, com foco nos imigrantes latino-americanos, também sinaliza uma ideia negativa para os vizinhos do sul dos Estados Unidos.

    "Isso contrasta diretamente com a política externa chinesa, que no discurso tende a manter o princípio da igualdade soberana", diz Carvalho.

    "Com essas atitudes hostis até mesmo com aliados históricos dos Estados Unidos, Donald Trump está, de certo modo, ajudando a política externa chinesa a se expandir ainda mais."

    (da redação com informações da BBC. Edição: Política Real)

     

     

     

     

     


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