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  • Contato Brasil, 05 de fevereiro de 2025 06:48:03
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  • 10/01/2025 06h32

    OPINIÃO: Sebrae, casa de ferreiro, espeto de pau

    Órgãos públicos ou de direito privado que deveriam apoiar a Imprensa regional, jogam dinheiro nas bigs techs e nos grandes veículos
    Foto: Image do site Misto Brasil

    Imagem da entrada principal do Sebrae Nacional, em sua sede na Asa Sul, bairro do Plano Piloto, em Brasilia

    ( Publicada originalmente às 11h 59 do dia 09/01/2025) 

    Por Gilmar Corrêa, do Misto Brasil

     

    O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) nasceu numa modesta sala no Rio de Janeiro como Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena e Média Empresa (Cebrae).

     

    Foi uma iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e participaram como fundadores também a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Associação Brasileira de Bancos de Desenvolvimento (ABDE).

     

    Se passaram 50 anos e hoje, é uma das marcas mais valorizadas do Brasil.

     

    A entidade privada sem fins lucrativos, criada por lei em abril de 1990, é uma máquina que gera prestígio, parcerias e muito, muito dinheiro.

     

    De um modesto orçamento na década de 1970, o valor  pulou para R$ 5,2 bilhões, em 2021, um aumento de 19,3% sobre o ano anterior.

     

    Em 2024, somente com a política de crédito na parceria com o governo federal, envolveu R$ 30 bilhões. Esse dinheiro, pelo que se disse, foi para financiar o pequeno negócio.

     

    A maior parte dos recursos do Sebrae vem de uma contribuição compulsória de 0,3% a 0,6% sobre o total da folha de salários das empresas.

     

    Embora do ponto de vista prático o governo não coloca dinheiro direto para compor o orçamento da instituição, a relação com o Sebrae é bastante estreita.

     

    Em 2022, por exemplo, estavam em andamento parcerias com 10 ministérios.

     

    O mesmo tipo de relação governamental ocorre com outras entidades do ” Sistema S”.

     

    Uma nota do Tribunal de Contas da União (TCU), explica que 141 entidades do Sistema S (Sistemas Senai, Senac, Sesi, Sesc e Senar) são importantes por promoverem, de forma suplementar, serviços de educação profissionalizante, saúde, lazer e cultura.

     

    Em função da alta materialidade dos recursos públicos parafiscais por elas arrecadados, da ordem de R$ 17 bilhões, somente em 2015.

     

    O Sebrae faz parte do Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa (Cebrae), um sistema vinculado ao governo. Por isso, é o governo federal quem indica o seu presidente. Hoje, ele é presidido por um petista, o ex-deputado federal Décio Lima.

     

    Apesar da responsabilidade com o dinheiro do trabalhador, das empresas e do governo (via contribuinte), o Portal da Transparência do órgão é precário.

     

    Não é possível, por exemplo, ter uma visão clara sobre os patrocínios.

     

    Não existe, por exemplo, uma ferramenta segura capaz de informar sobre os gastos milionários em publicidade. No Sebrae de São Paulo – para citar um dos braços estaduais -, os últimos dados disponibilizados são de maio de 2019.

     

    No Sebrae Nacional, a falta de dados segue na mesma batida: nada transparente.

     

    Em decorrência de uma auditoria, o TCU sugeriu uma série de recomendações às entidades regionais e nacionais do Sistema S relativas à divulgação de dados em seus sítios eletrônicos.

     

    A publicidade para os grandes

     

    Feito essas observações, entramos no tema da finalidade da abordagem desse texto.

     

    O objetivo da entidade privada, no caso o Sebrae, é promover o desenvolvimento sustentável e a competitividade dos pequenos negócios, além de fomentar o empreendedorismo.

     

    Esse princípio não é uma política respeitada pelo Sebrae. A maior fatia do orçamento publicitário vai para os grandes veículos de comunicação.

     

    Os jornais regionais, TVs regionais, portais regionais, radios regionais, estão fora do alcance da ditadura das agências publicitárias. Elas ditam a regra dentro do Sebrae para onde vai e como vai o dinheiro nesta área.

     

    Em 200 portais regionais – para citar esse segmento -, há 200 milhões de acessos todo mês, caracterizados por gente que vive nas cidades e nos estados.

     

    Para o Sebrae, infelizmente, esse público é invisível. No entanto, o Sebrae garante que seu interesse primário é o micro e pequeno empresário e os MEIs. Custava dar apoio direto a esse povo da comunicação?

     

    O Sebrae promete uma coisa e pratica hoje. Casa de ferreiro, espeto de pau.

     

    O apoio à imprensa regional não pode ser contabilizada com os anúncios nas plataformas e nas redes sociais, as big techs. Essas empresas transnacionais recebem uma bolada bilionária todo ano a título da distribuição dos anúncios.

     

    Ocorre que, se uma campanha aparecer num site no chamado “leilão virtual”, por exemplo, na Paraíba, esse dinheiro só entra na contabilidade se o internauta clicar sobre a peça publicitária.

     

    É a lógica dos anúncios do Google. O anúncio aparece no veículo, o Google recebe a bolada, mas o veículo chupa o dedo. Se recebe uma mínima de uma mínima fração, caso o internauta clicar no banner.

     

    Essa ideia distorcida de divulgação, que não privilegia o Jornalismo de fato, contaminou todos os órgãos públicos.

     

    O Sebrae e todos outros garantem que dão apoio ao pequeno comunicador. Balela,

     

    É o caso do Banco da Amazônia, do Banco Nordeste, do BRDE, do Banco de Brasília, da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, do BNDES, os bancos estaduais. A lista é imensa.

     

    O gasto total com publicidade do governo Lula da Silva saiu de R$ 633 milhões, em 2022,  para R$ 451 milhões em 2023, segundo um levantamento publicado em abril do ano passado pelo Poder360.

     

    Enquanto Lula da Silva aumentou os repasses de publicidade para as TVs, a internet foi preterida. Foram R$ 65 milhões para esse meio, ou 14,2% do total. Em 2022, a internet teve 17,5% dos gastos.

     

    Perversidade histórica virou rotina

     

    A mesma concepção vesga pulveriza os governos estaduais. A verba publicitária vai para os grandes.

     

    O que sobre do bolo, se transforma em moeda de troca para apoios políticos na marra. É a troca de notas e reportagens amigáveis pela tosto do bolo. Um cabresco histórico sobre a Imprensa regional.

     

    É preciso que esse conceito, capitaneado especialmente pelas agências e por gestões públicas ignorantes, seja invertido.

     

    Na tarde desta terça-feira (07), o acionista principal de Meta – que tem sob suas asas o Facebook, Instagram e WhatsApp -, disse que vai jogar no lixo o sistema de verificação das postagens.

     

    Enquanto os veículos de comunicação têm uma série de responsabilidades, como criar emprego, essas multinacionais trabalham para um terreno sem fiscalização.

     

    E pior, não pagam pelos conteúdos produzidos pelos jornalistas. Sim, também pela mídia regional.

     

    Como entender que essas plataformas e redes sociais – que não respeitam as leis nacionais e ditam suas próprias regras -, acabem patrocinadas pelo poder público e assemelhados como Confederação Nacional do Comércio, Confederação Nacional da Indústria, e todo o Sistema S?

     

    É uma controvérsia os governos estaduais e federal colocarem bilhões em publicidades nessas bigs techs. Essas empresas não redistribuem honestamente os valores para os veículos.

     

    De acordo com o Digital AdSpend, o segmento que mais investiu em publicidade no ambiente online no primeiro semestre de 2022 foi o comércio (25%) e os serviços (24%).

     

    Na terceira posição aparece o setor de mídia, com 7% do total de investimentos, seguida pelo financeiro (6%).

     

    No primeiro semestre de 2021, os investimentos em publicidade digital no Brasil alcançaram o montante de R$ 14,7 bilhões, de acordo com o Digital AdSpend Brasil, relatório elaborado pelo IAB Brasil em parceria com a Kantar, segundo o Meio e Mensagem.

     

    Será que as redes sociais são o único meio de informação na atualidade?

     

    Bilhões em publicidade para as big techs

     

    As big techs e as redes sociais usam o algorítmo para impulsionar notícias falsas e o engajamentos em massa em assuntos pervertidos.

     

    Não dá para entender, portanto, como os governos e entidades civis patrocinam essas multinacionais sem uma política consistente para a valorização do jornalismo local e regional.

     

    O futuro ministro da Comunicação Social da Presidência da República, Sidônio Palmeira, deveria ter um novo olhar sobre as verbas publicitárias. E dar um exemplo.

     

    Fica também o apelo para o Sebrae e para todos os órgãos públicos. Invertam a lógica que hoje é o império que humilha os médios, pequenos e micros veículos de comunicação.

     

    Aqui todos sabem: fazer jornalismo sério é um esforço hercúlio. Quase um ato kamikaze.

     

    As redes sociais foram o destino de mais da metade do investimento total das verbas de publicidade digital, de acordo com o estudo divulgado pelo Meio e Mensagem. Segundo o IAB Brasil e a Kantar, 52% do total dos investimentos foi para as plataformas digitais.

     

    Em seguida, aparece os buscadores (search), que correspondem a 29% do total dos anúncios, enquanto publishers e verticais ficaram com 18%.

     

    Na Câmara dos Deputados há uma proposta para botar um pouco de freio na esculhambação. É o projeto de lei 1677, protocolado em 2015. Claro, está parado em alguma comissão,

     

    A proposta destina às mídias regionais pelo menos 20% dos recursos para contratação de publicidade institucional ou comercial por órgãos, entidades, empresas públicas e sociedades de economia mista das três esferas de governo.

     

    “A ideia é assegurar o funcionamento de pequenos jornais, revistas, rádios, veículos de radiodifusão comunitária e instrumentos de informação na internet, que são os maiores prejudicados pela concentração em grandes veículos da publicidade institucional e comercial veiculadas por instituições públicas”.

     

    A frase é da deputada Maria do Rosário (PT-RS), a autora da proposta, a mesma parlamentar filiada ao partido do presidente Lula da Silva.

     

     

    ( Por Misto Brasil editado, na íntegra, pela Política Real)

     

     

     

     

     

     

     


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