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- Contato Brasil, 26 de dezembro de 2024 13:18:10
( Publicada originalmente às 19h 59 do dia 09/12/2024)
Com agências
(Brasília-DF, 09/12/2024). Nesta segunda-feira, 9, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, afirmou que a Rússia e o Irã foram cúmplices dos crimes cometidos pelo presidente deposto da Síria Bashar al-Assad e criticou a confiabilidade dos dois países como parceiros estratégicos.
"Rússia e Irã foram os principais apoiadores do regime de Assad, e compartilham a responsabilidade pelos crimes cometidos contra o povo sírio", disse Rutte. "Eles também provaram ser parceiros não confiáveis, abandonando Assad quando ele deixou de ser útil para eles."
O chefe da aliança militar ocidental disse que o fim do governo de Assad "é um momento de alegria, mas também de incertezas para o povo da Síria e da região."
"Esperamos uma transição pacífica de poder e um processo político inclusivo liderado pela Síria", afirmou o secretário-geral.
"Estaremos observando de perto para ver como os líderes rebeldes se comportam durante essa transição. Eles devem defender o Estado de direito, proteger civis e respeitar minorias religiosas."
O foco de atuação da Otan está na Europa e na América do Norte, em um momento em que a aliança se contrapõe à Rússia e ao Irã nas questões em torno da guerra na Ucrânia. A organização tem papel muito limitado no Oriente Médio.
Mais
Após a rápida derrubada do governo sírio por grupos rebeldes, a liderança do Irã luta para acomodar a perda de seu importante aliado Bashar al Assad. A princípio, as autoridades de Teerã minimizaram a situação, descrevendo como "normais" as condições no país vizinho. Porém, é muito provável que sua estratégia regional esteja ameaçada.
A Síria tem sido uma pedra angular do que os iranianos denominam a Crescente Xiita, uma visão geopolítica visando conectá-los a seus aliados no Líbano e mais além.
O líder supremo Ali Khamenei descreveu a Síria como um "pilar" do "Eixo de Resistência", uma rede de grupos apoiados pelo Irã que se opõem à influência de Israel e dos Estados Unidos no Oriente Médio. Além disso, ela proporcionava um corredor para armas e outros recursos iranianos chegarem até seus aliados no Líbano.
A família Assad regeu a nação com punho de ferro por mais de 50 anos, e sua queda representa um revés devastador para a visão iraniana. Observadores antecipam que a República Islâmica poderá continuar apoiando grupos aliados na região, porém com capacidade financeira e militar significativamente reduzida.
Segundo o analista político dissidente Mohammad Javad Akbarin, é possível que Teerã modifique sua tática de manter influência, impedindo que uma ordem nova e estável se sedimente na Síria. Tal passo tem precedentes, pois o país respaldou forças desestabilizadoras no Iraque e no Afeganistão para contrapor-se à influência americana e projetar seu próprio poder. Entretanto, as atuais dificuldades econômicas do Irã limitariam seu poder de agir na mesma escala.
Apoio bilionário a Assad dói no povo iraniano
O custo de apoiar o governo Assad tem sido fonte de frustração crescente no Irã. Em entrevista a um jornal em 2020, o ex-presidente da Comissão Parlamentar de Segurança Nacional e Política Externa Heshmatollah Falahatpishe revelou que seu país gastara cerca de 30 bilhões de dólares (R$ 181,4 bilhões) para manter Assad no poder.
Esse apoio, juntamente com o da Rússia, permitiu que o ditador mantivesse a vantagem na guerra civil – durante a qual reprimiu brutalmente a oposição, sendo acusado de crimes de guerra, inclusive de ofensivas indiscriminadas contra civis.
A carestia econômica em grande escala no Irã tem provocado ressentimento entre a população: muitos acusam o governo de priorizar gastos externos em vez de suprir necessidades domésticas como a construção de escolas e hospitais nas regiões mais pobres.
Em postagem recente no X, o ex-deputado iraniano Bahram Parsaei enfatizou que as despesas com Assad contornaram a aprovação parlamentar, e perguntou quem arcaria com o débito, agora que o déspota sírio se foi.
( da redação com informações de DW, AFP, AP. Edição: Política Real)