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- Contato Brasil, 13 de maio de 2025 13:15:21
(Brasília-DF, 13/05/2025) A Política Real publica a íntegra do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura do Forum CElAC-Chinas, na cidade de Pequim na China.
Confira:
Excelentíssimo Sr. Xi Jinping, Presidente da República Popular da China; excelentíssimo companheiro Gabriel Boric, Presidente da República do Chile, por meio de quem cumprimento toda a delegação chilena; meu caro Gustavo Petro, Presidente da República da Colômbia, por meio de quem cumprimento toda a delegação da Colômbia; minha querida companheira Dilma Rousseff, Presidenta do novo Banco de Desenvolvimento, mais conhecido como Banco dos BRICS; meu querido Mauro Vieira, Ministro das Relações Exteriores, por meio de quem cumprimento toda a delegação brasileira; minha querida companheira Janja; companheiros ministros, companheiros embaixadores, companheiros parlamentares, presentes nesta quarta cumbre de China-CELAC.
Agradeço o convite para participar desta reunião, que coroa o trabalho da presidência hondurenha e marca um início auspicioso para a presidência colombiana.
Como muitos lembraram hoje, o Foro CELAC-China comemora seu décimo aniversário este ano. Ao longo dessa década, os laços entre a América Latina e o Caribe e a China se fortaleceram. A China já é o segundo maior parceiro comercial da CELAC e um dos mais importantes investidores diretos na região. Recursos oriundos de instituições financeiras chinesas superam créditos oferecidos pelo Banco Mundial ou pelo BID. A parceria com a China é um elemento dinâmico para a economia regional.
A demanda chinesa foi um dos propulsores do crescimento que experimentamos no início do século. Obtivemos avanços expressivos na redução da pobreza e da desigualdade. Foi, nesse momento, que finalmente olhamos para nosso entorno e nos unimos para criar a UNASUL e a CELAC.
Durante a pandemia da Covid-19, vacinas e insumos chineses nos ajudaram a proteger nossas populações. Só, com maior articulação entre nós, conseguiremos aproveitar ao máximo o potencial de cooperação sino-latino-americana e caribenha.
Isso fica evidente sobretudo na área de infraestrutura. O apoio chinês é decisivo para tirar do papel rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão. Mas a viabilidade econômica desses projetos depende da capacidade de coordenação de nossos países para conferir a essas iniciativas escala regional.
A desarticulação da UNASUL, que procuramos reverter, deixou uma enorme lacuna no planejamento conjunto. Não precisamos apenas de corredores de exportação, mas de rotas que sejam vetores de desenvolvimento e união. Por séculos, recursos extraídos da América Latina e do Caribe enriqueceram outras partes do mundo. Temos a chance de fazer diferente.
O ciclo das commodities dos últimos anos contribuiu para elevar a posição da região na economia global. Mas situações de crise mostram que a prosperidade de longo prazo requer trocas equilibradas e economias diversificadas.
Sempre existiram distorções no comércio internacional, especialmente no intercâmbio de produtos agrícolas, cujo tratamento nunca avançou de forma satisfatória na OMC. A imposição de tarifas arbitrárias só agrava essa situação.
Para construir um futuro compartilhado, é necessário reduzir as assimetrias entre os países. É imprescindível que a colaboração entre a CELAC e a China contribua para fortalecer a indústria e a inovação na região.
A revolução digital não pode criar um novo abismo tecnológico entre nações. O desenvolvimento da Inteligência Artificial não deve ser um privilégio de poucos. Uma transição justa para uma economia de baixo carbono também exige amplo acesso a tecnologias de energia limpa.
A América Latina e o Caribe e a China podem mostrar ao mundo que é possível conter a mudança do clima sem abdicar do crescimento econômico e da justiça social. A COP30, na Amazônia, no estado do Pará, na cidade de Belém, no coração da Amazônia, almeja ser um ponto de virada na implementação dos compromissos climáticos, estabelecendo a confiança em soluções coletivas.
A solução para a crise do multilateralismo não é abandoná-lo, mas sim aperfeiçoá-lo.
A América Latina e o Caribe podem contribuir elegendo a primeira mulher Secretária-Geral da ONU e honrando, assim, o legado da Conferência de Pequim sobre os direitos das mulheres.
A governança global já não espelha a diversidade que habita a Terra. Esse anacronismo tem impedido que se cumpra o propósito de evitar o flagelo da guerra, inscrito na Carta das Nações Unidas.
Nossa região não deseja ser palco de disputas hegemônicas. Há mais de uma década, a CELAC declarou a América Latina e o Caribe como zona de paz. Não queremos repetir a história e encenar uma nova guerra fria.
Nossa vocação é ser um dos eixos de uma ordem multipolar, na qual o Sul Global esteja devidamente representado. O Fórum CELAC-China foi o primeiro mecanismo de interlocução externa da América Latina e do Caribe com um país em desenvolvimento. Eu espero que sigamos trilhando novos caminhos, com o mesmo pioneirismo, pelos próximos dez anos.
Meus amigos e minhas amigas, ao terminar a minha fala, eu queria fazer um alerta a todos os companheiros da América Latina. O futuro da América Latina depende do nosso comportamento, da análise justa do que aconteceu no século XX, onde nós avançamos, e onde nós retrocedemos, para que a gente compreenda de uma vez por todas: Não há saída para nenhum país individualmente.
Nós temos 500 anos de histórias que provam isso. Ou nós nos juntamos entre nós, e procuramos parceiros que queiram, junto conosco, construir um mundo compartilhado, ou a América Latina tende a continuar sendo uma região que representa a pobreza no mundo de hoje.
É importante que a gente compreenda. Não depende de ninguém. Não depende do presidente Xi Jinping. Não depende dos Estados Unidos. Não depende da União Europeia. Depende, pura e simplesmente, se a gente quer ser grande ou a gente quer continuar pequeno.
Um abraço.
( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)