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Jorge Henrique Cartaxo
  • 05/08/2020 22h14

    O Reino do Meio

    Em fevereiro de 1972, Richard Nixon, então presidente dos Estados Unidos, desembarcou em Pequim para uma visita oficial

    China - Povos antigos( foto: arquivo do autor)

    “Acho que Trump pode ser uma dessa figuras na história que aparece de tempos em tempos para marcar o fim de uma era e forçá-la a abandonar suas antigas mentiras. Não significa necessariamente que ele saiba disso, ou que esteja considerando alguma alternativa. Pode ser apenas um acaso”.  A observação de Henry Kissinger confessada ao jornalista Edward Luce, do Financial Time, no restaurante Jubilee, em Manhattan, no verão de 2018, certamente teria um complemento mais ácido se feita com o olhar dos dias de hoje.  Os EUA de Trump se isolam diante do mundo, sufocam-se no coronavírus e só encontram entusiasmo na parceria diplomática com figuras exóticas, tipo Jair Bolsonaro.

    Em fevereiro de 1972, Richard Nixon, então presidente dos Estados Unidos, desembarcou em Pequim para uma visita oficial. Seguindo o roteiro, previamente negociado e definido pelo seu Secretário de Estado, Henry Kissinger, durante uma semana de conversações, encontrou-se    com Mao Tsé-Tung, tomou drinks com o primeiro-ministro Chu En-lai, compareceu ao grande Salão do Povo, percorreu a Praça da Paz Celestial e visitou a Muralha da China em companhia de Pat Nixon. Dava-se o primeiro passo para a implosão da Guerra Fria, do “mundo socialista” e do Império Soviético, que ruiria na poeira da queda do Muro de Berlim em 1989, quinze anos depois.

    Com a ascensão de Deng Xiaoping em 1976, após a morte de Mao Tse-Tung, inaugura-se uma era de grandes mudanças econômicas na China que, com alguns ajustes, permanecem até hoje. Planejamento, recuperação tecnológica, criação das Zonas Especiais Econômicas, fortalecimento militar e integração comercial com o ocidente. O resultado é o que vemos hoje: a totalitária e segunda maior economia do planeta! Trump e sua América particular querem barrar a expansão, que parece inevitável, da China.

      Difícil uma previsão segura do que acontecerá depois da pandemia. Se vitorioso nas eleições de novembro, Trump poderá intensificar suas disputas com Pequim gerando mais instabilidades na economia mundial. Vencendo o democrata Joe Biden as preocupações americanas quanto a sua preponderância na economia ocidental permanecerão. Mas, certamente, com outra condução e com a busca de um novo diálogo com a Europa e a própria América Latina. Enquanto os maestros afinam suas orquestras para as próximas sinfonias, aqui no bananal assistimos a nossa animada decomposição institucional.

     Entre cloroquinas, emas, cavalgadas, motocicletas, malabarismos jurídicos e judiciais, crimes ambientais, omissões sanitárias, fanfarronices militares, descaminhos econômicos e uma mobilização crescente da intolerância política e ideológica aguardamos a imposição dos fatos e das vontades externas.  “Um Atlântico dividido transformaria a Europa em um apêndice da Eurásia, que ficaria à mercê da China, que quer restaurar seu papel histórico como o Reino do Meio e ser o principal assessor da humanidade”, adverte, ainda, o nonagenário Kissinger, no início daquela tarde no simpático Jubilee. Antes, bem antes da pandemia. Te liga aí, Bolsonaro!

                                                  


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