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Jorge Henrique Cartaxo
  • 27/05/2020 20h40

    A Volta da Armada

    Ainda no governo Lula, em 2008, o general Heleno, então Comandante Militar da Amazônia, insurgiu-se contra uma decisão do STF que redefinia as demarcações de territórios indígenas na região da Raposa Serra do Sol

    1964 - Evandro Teixeira( Foto: arquivo do colunista)

    Com o fim da Guerra do Paraguai – 1864/1870 – os militares, no rastro do prestigio de Caxias, passaram a ser notados e admirados no Brasil. E com isso um conjunto de reivindicações que, não raro, incomodava Pedro II. Não foi por acaso o apoio e a liderança do Exército no golpe de 1889 – quase que exigido pelos escravocratas vencidos pela abolição – que inaugurou a República no Brasil sob o comando do general Deodoro da Fonseca.  

    Desde então, rebeliões e quarteladas se seguiram em quase todos os governos da “Primeira República – 1889/1930 -, notadamente nos anos 1920. Com a Revolução de 30, mais especificamente com a implantação do Estado Novo em 1937, os militares ocuparam posições de comando e destaque no governo e nos estados. Sustentaram a longa ditadura Vargas desde então e o depuseram em 1945. Entre 1945 e 1964, os militares atuaram de uma maneira constante e desabrida. O famoso Memorial do Coronéis, em 1954, coordenado  pelo já diligente Golbery do Couto e Silva, anunciava que “a decadência moral do país ameaça degradar as Forças Armadas”. Lançado meses antes do suicídio de Getúlio Vargas, que havia voltado ao poder pelo voto em 1950, o Memorial foi a primeira advertência à democracia, entre 20 pronunciamentos militares, até o Manifesto do Clube Naval, que considerava a “Marinha completamente abalada em suas estruturas”, em 29 de março de 1964, três dias antes do golpe de primeiro de abril de 1964 que derrubou o governo Goulart.

    Numa aliança sólida com a Igreja Católica, empresários, as classes médias e as lideranças civis, os militares governaram de 1964 a 1984. Desde o governo Sarney, depois de uma hábil transição política feita na melhor tradição das impropriedades da nossa história, os militares voltaram para os quarteis. Aceitaram, com visível desconforto, a criação do Ministério da Defesa, mas recuperavam sua imagem institucional diante dos brasileiros na exata medida em que os governos e as instituições civis se degradavam nos desgovernos  dos últimos 38 anos.

    Ainda no governo Lula, em 2008, o general Heleno, então Comandante Militar da  Amazônia, insurgiu-se contra uma decisão do STF que redefinia as demarcações de territórios indígenas na região da Raposa Serra do Sol. Em 2015, numa manifestação mais dura, o general Hamilton Mourão, então comandante Militar do Sul,  numa palestra para oficiais da reserva, convocou os  presentes para “o despertar de uma luta patriótica” e, ao se referir  ao  previsto impeachment de Dilma, disse que “a vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”. Mourão é hoje o vice-presidente da República e Heleno o ministro do GSI no Palácio do Planalto.

     Não se sabe muito, ainda, sobre como Bolsonaro construiu sua candidatura e venceu as eleições de 2018. O apoio do Exército hoje parece claro, assim como a grande e antiga mobilização das policias militares em torno de Jair Bolsonaro. Agora aparece uma pequena face de quando e como foi montada a milionária máquina de publicidade e fake news que deu vida ao projeto político do atual presidente da República e seus filhos.

                                        


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