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Jorge Henrique Cartaxo
  • 21/05/2020 08h09

    Cloroquinas e tubaínas

    As estultices do capitão Bolsonaro, que dividiu a Nação entre os tomadores de cloroquina e os bebedores de tubaína, deveriam assustar o jovem general

    Esporte Aquático - Albert Janesh (1936)( Foto: arquivo do colunista)

    “Se a ciência não pode passar sem os judeus, teremos de nos haver sem a ciência”. A frase de Hitler dita, aos berros naquela tarde de 6 de maio de 1933, ao pai da física quântica, Marx Planck, então diretor do Kaiser Institute, selou o destino de outro cientista, este judeu, Fritz Haber, uma das sumidades da, já refinada, ciência alemã nos anos 1920. Plank havia se dirigido a Hitler para solicitar-lhe a preservação da plêiade de cientistas judeus alemães, então perseguidos e humilhados na escatológica ascensão nazista.

    A cena ocorrida na refinada Berlim das primeiras duas décadas do século XX –apesar da crise que se abateu sobre o país ao longo do anos 1920 – nos remete ao ato do general Eduardo Pazuello, que faz as honras de ministro da Saúde, ao subscrever o novo protocolo clínico, imposto pelo presidente Jair Bolsonaro, autorizando o uso de cloroquina por pacientes vítimas do coronavírus, contrariando toda a ciência praticada e recomendada, no Brasil e no mundo, sobre a cloroquina. Como já dito anteriormente neste  mesmo espaço, a cloroquina é uma medicação antiga e usada há mais de cinco décadas. Em situações especificas e individualizadas, ela tem sido aplicada em pacientes com coronavírus. Mas a sua eficácia, ainda que suposta em alguns casos, nunca foi comprovada cientificamente.

    Subordinado a um capitão com visível problema de cognição, ausência de empatia, de misericórdia, de tolerância e de sentimentos básicos de humanidade – Jair Bolsonaro -, o general-intendente Eduardo Pazuello deveria olhar para a história e considerar que a simbiose entre ciência e ideologia, não raro, inspira sentimentos e práticas nem sempre dignos. Seu colega de farda – não exatamente de crença e intenções – Heinrich Himmler, que ostentava o título de Reichsfuher – SS – algo como Marechal de Campo -, segundo homem na hierarquia nazista, não escondia sua  predileção pela ciência, apesar de trazer apenas um curso básico de agronomia. Conta-se que ele ordenava pesquisas sobre a relação entre os canhotos e a homossexualidade e a genealogia genética dos cavalos dos antigos reis nórdicos.

    Mas, se ensinamento não há na história para o jovem general-intendente, com suas doutas experiências em jogos olímpicos e gestão de refugiados,  recomenda-se que Pazuello tome tenência com as prudentes advertências lançadas no editorial de ontem do tradicionalíssimo jornal o Estado de São Paulo. Sob o título “A cloroquina e o crime de responsabilidade”, o diário da família Mesquista destaca o artigo 196 da Constituição Federal, onde se lê sobre a saúde como um direito de todos e um dever do Estado.

    As estultices do capitão Bolsonaro, que dividiu a Nação entre os tomadores de cloroquina e os bebedores de tubaína, deveriam assustar o jovem general. Bolsonaro, como Hitler, se deleita agredindo políticos, pacifistas, feministas, gays, a mídia e espalhando fake news.

    No século XX, as elites europeias, de certa forma, acolheram o soldadinho austríaco. Como os editoriais do Estadão anunciam, as “elites” do bananal já se incomodam com as bravatas do capitão do Alvorada. A conferir!  

                                                              


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