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Edson Vidigal
  • 29/10/2020 23h58

    Dez Caixas Para Eloá

    - Delícia! Néctar dos deuses! Isto é produzido aqui no Maranhão?

    Guaraná Jesus uma marca do Maranhão( Foto: O Tempo)
    Depois do comício, no adro da Igreja, no Largo do Carmo, Jânio foi a um jantar com empresários no casarão de um deles, na Rua Grande.
     
    Lá para as tantas, dentre os nativos, alguém lhe ofereceu o refrigerante de maior sucesso, conhecido como o sonho cor de rosa das crianças.
     
    Erguendo a taça contra a luz, mirando o conteúdo com um olho só, admirado, acionou o olfato e provou da oferenda num gole curto:
     
    - Delícia! Néctar dos deuses! Isto é produzido aqui no Maranhão?
     
    - Sim, Presidente. É genuinamente maranhense.
     
    - Dez caixas para Eloá!
     
    A aprovação, respeitosa, de Jânio instaurou euforia entre os convivas. De pronto, voluntariam-se alguns. A fábrica era ali perto, na Rua de Santana, esquina com a ladeira da António Rayol.
     
    Manhã seguinte, quando o avião, um DC-10, decolou do Tirirical, as dez caixas do sonho cor de rosa das crianças já estavam no bagageiro.
     
    Do barulho das hélices avolumam-se as esperanças num radioso futuro para o empresariado do Maranhão. Notadamente para o fabricante do guaraná Jesús.
     
     
     
    Passa, passa gavião, todo mundo passa...
     
    Num começo de tarde, em Brasília, o Presidente Jânio Quadros dispara um chamado urgente a um jovem Deputado, Vice-Líder do Governo.
     
    Não conseguia desfilar na memória assunto ensejador de tamanha urgência. Lembrava-se com nitidez de véspera do não que dera ao apelo presidencial, mas isso foi no começo do Governo.
     
    Afonso Arinos, o chanceler da República, que devotava um carinho familiar ao jovem Deputado do seu partido, a UDN, sugerira ao Presidente que o indicasse ao Senado para um posto diplomático – Embaixador do Brasil em Cuba.
     
    Antes de dizer sim, teve o cuidado de consultar, embora muito animado, a sua mulher.
     
    (“E a aquela força por detrás do trono me impediu de nomear o Embaixador que eu mais queria”. Contou-me Jânio, anos depois da anistia, enquanto almoçávamos no seu retiro na Praia de Pernambuco, no Guarujá).
     
    Mas agora, matutava o Deputado, não tinha a menor ideia do que poderia ser. Sabia verdadeiro o afeto que o Presidente lhe dedicava.
     
    O que poderia ser? Enquanto seguia rumo ao Palácio repassava a pauta das últimas sessões, suas orientações enquanto líder, era vice - líder, da bancada, fizera, sim, tudo certo.
     
    Quando chegou ao terceiro andar do Palácio do Planalto, o Ajudante de Ordens já o aguardava. O Presidente determinara que adentrasse o Deputado imediatamente.
     
    No Gabinete, Jânio exalava autoridade. Passeou o olhar sério no Deputado. Dos pés à cabeça.
     
    - José, meu bem! Estou pronto para cumprir o meu compromisso contigo. Irei ao Maranhão.
     
    (A promessa foi a de instalar o Governo Federal por três dias em São Luís, reunindo os Governadores da região. E o Presidente, de fato, a cumpriu.)
     
    - Mas, pelo amor de Deus... - Advertiu.
     
    - Não me manda servir aquela gororoba cor de rosa de tem gosto de chicletes.
     
    Edson Vidigal foi o último advogado de Jânio Quadros.
     
    -oOo-
     
     
     
    29.10.20

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