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  • Contato Brasil, 26 de abril de 2024 05:04:20
Genésio Jr.
  • 25/03/2018 15h25

    Eles voltarão a decidir

    O grande assunto que domina este país nos últimos dias foi a decisão do Supremo Tribunal Federal de adiar uma posição final sobre a situação jurídica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

    Supremo vai voltar a se reunir e poderá agradar mais do que vem agradando( foto: site Agência Brasil)

    (Brasília-DF) A Semana Santa é tão impactante que, mesmo que não se seja um religioso de primeira linha, não dá para ficar indiferente.  É um marco civilizatório.

    Costumo dizer, e me sirvo de outros que dedicaram a vida a isso, que as concepções greco-romanas, principalmente na Grécia Antiga, montaram o arcabouço do entendimento humano. Até as concepções pós-modernas, que colocaram de cabeça para baixo construções éticas tradicionais, bebem naquela fonte.  A maior história de todos os tempos, como já se titulou a morte de Jesus Cristo na Judéia Romana, coloca à mostra todas as nossas angústias humanas. Vão além de uma visão ocidental.

    O grande assunto que domina este país nos últimos dias foi a decisão do Supremo Tribunal Federal de adiar uma posição final sobre a situação jurídica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

    Os que desejavam vê-lo enfrentando uma provável prisão, face a iminente última decisão que virá do Tribunal Regional da 4ª Região(TRF4) - saíram frustados. Os que avaliavam ser uma tremenda injustiça e são encantados com o ex-presidente saíram aliviados, crentes que existem razões para crer que ele não será preso, mais ainda, que poderá concorrer nas eleições de outubro deste ano.

    Quem tem um mínimo de equilíbrio frente as duas paixões nacionais, reconhece que o nosso Supremo teria errado duplamente, ainda nunca sobre o mérito, mas por ter adiado uma decisão assim como ter marcado a decisão sobre o habeas corpus preventivo.

    As decisões do Supremo podem ser mal recebidas quando há muita paixão, porém devem, sempre ser respeitadas. Nossa democracia já está muito sofrida para enfrentar mais agruras. 

    O problema de ter marcado a sessão, para julgar o habeas corpus em favor do ex-presidente - foi uma estratégia da Presidência da Corte para não ter que enfrentar as pressões para voltar a julgar se valem, ou não, as prisões em segunda instância, tão instigada por vários membros da Corte. Isso vai obrigar, pois foram postergadas vários julgamentos de HCs que estavam prontos para serem julgados, que o Supremo tenha que enfrentar suas contradições. 

    Outro problema foi o calendário, e esse bate na Semana Santa que até os indiferentes têm que tratar.  O julgamento do TRF4 está marcado para essa segunda-feira,26, o segundo dia da semana mais célebre para os cristãos. 

    Lula desde o nascimento do Partido dos Trabalhadores se aliou a Igreja vocacionada aos mais pobres.  As organizações que desejam apoiar uma retomada da democracia no Brasil, ao final do último período autocrático no país, despejavam recursos internacionais nas organizações não governamentais ligadas à Igreja Católica no Brasil. A maioria delas era próxima do PT e de Lula.

    Prender Lula no segundo dia da Semana Santa seria um exagero histórico. Na terça-feira da Semana Santa, Cristo fala aos seus discípulos que será traído e que será morto. Lula não tem nada de Cristo, mas a política adora versões que falam às paixões.  Após a decisão final do TRF4 tomada, na segunda-feira, 26, o juiz Sérgio Moro, que deve aplicar a pena, poderia mandar prender Lula na terça-feira,27. 

    Moro poderia ter a prudência de aplicar sua decisão na semana seguinte, no dia 3 de abril. Poderia, mas a lei lhe daria pouco espaço para tal.

    Os erros dos poderosos são alvo natural dos que lhe dão legitimidade. O Supremo se permitiu não ter alternativas. O que dá alguma certeza de que o mundo não vai se acabar é que o Supremo voltará a decidir. Ainda bem que isso se dê, pois é garantia de que a democracia continuará a funcionar.

    Por Genésio Araújo Jr, jornalista

    E-mail: [email protected]


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