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Edson Vidigal
  • 20/09/2017 07h11

    O Jovem Predador

    Moral da história. Completa o Luiz Raimundo. Não subestime um cachorro velho

    Há quem diga na minha idade já não me cabe mais fazer isso ou aquilo. Ora, o mais grave a partir de certa idade não está em não fazer isso ou aquilo.

    O mais grave na maturidade, e pior ainda na velhice, não é a perda das capacidades oftálmicas ou auditivas, que vão se reduzindo de forma inexorável, ou da memória.

    O mais grave a partir de certa idade, digamos assim chegando à maturidade até alcançar a velhice, é a perda da noção do ridículo. Não há nada mais ridículo do que um velho arrogante e ridículo.

    Mas eu quero é falar bem dos velhos, melhor dizendo dos mais vividos, louvando-lhes a sabedoria, a prudência, essas coisas resultantes da experiência que se transmudam em grandes lições de vida.

    Eu pensava nisso quando o Luiz Raimundo, meu quase irmão de uma vida inteira, que manda essa historinha, a qual para mim, e com certeza para você aí também, diz tudo no tema.

    Uma idosa senhora levou seu velho vira latas para um safári na África. Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente, se deu conta de que se perdera.

    Vagando a esmo, em busca do caminho de volta, remoendo aquele verso de José Américo, no caminho da volta ninguém se perde, ninguém se perde, o velho cão percebeu que um jovem leopardo o seguia.

    Vendo uns ossos espalhados, restos da mesa farta de algum outro inimigo, o velho cão chegou mais perto, um olho nos ossos e outro olho no jovem predador que se aproximava e passou a fazer de conta que os roia.

    Ao notar que o jovem predador estava na regressiva para lhe dar o bote, o velho cão calmamente, ajeitando aquela ossada com odor de véspera, falou alto e compassado, palavra por palavra que nem um rei gago lendo um discurso. Oh cara, este leopardo estava delicioso. Será que há outros por aí?

    Ouvindo isso, o jovem leopardo, com um arrepio de terror, sustou o seu ataque e saiu arrancando a cem por hora como quem busca asas para se esconder nas nuvens. Carrajo! Exclamou num alivio. Essa foi por pouco. O velho vira lata quase me pega.

    Aqui entra em cena um macaco. Historia de leão que não tem macaco fica insossa. E o que faz o nosso distante ancestral? Esse jovem leopardo é um perigo e eu preciso da proteção dele. Engendrou.

    O macaco contou então ao jovem predador que aquilo tinha sido uma inteligente jogada do velho cão. Fulo de raiva, o leopardo como se brincasse de surrão sai com o macaco nos ombros atrás do velho cão. Canalha, vais me pagar. Resmungou raivoso.

    Novamente o velho cão surpreende. Ao ver os dois correndo, leopardo e macaco, mancomunados, querendo agarrá-lo, o velho cão fica na sua, de costas para o perigo, parado.

    E só quando os dois estão bem perto, o velho cão novamente quase soletrando as palavras, que nem um rei gago, indaga num tom firme. E cadê o filho da puta daquele macaco? Estou quase morrendo de fome! Ele me disse que ia trazer outro leopardo para eu comer e não chega nunca!

    Moral da história. Completa o Luiz Raimundo. Não subestime um cachorro velho. Idade e habilidade são mais que juventude e intriga. Sabedoria não vem apenas com idade. Vem com a experiência. Seja astuto. Mas nunca ridículo.

    Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.


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