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Misto Brasília - Por Gilmar Correa
  • 09/09/2016 13h19

    Uma boa escola, como a minha

    Escola pública não é sinônimo de baixa qualidade; falta compromisso dos pais, professores e vizinhos

    Escola D. Pedro II, em Blumenau, em 1973/Arquivo de Adalberto Day

    Quando comecei a estudar, com seis ou sete anos (naquele tempo a gente começava com essa idade), a minha escola tinha quatro ou cinco salas. Escola municipal pequena que acolhia a gurizada, alguns bem mais velhos.

    Todos eram pobres. Andavam de chinelos e calças curtas, mesmo no inverno em dias de neblina espessa. A gente aproveitava a brancura da manhã para o esconde-esconde enquanto ia caminhando para a escolinha.

    A bandeira nacional era hasteada pelo menos uma vez por semana e os hinos da Bandeira e o Nacional faziam parte do repertório musical.

    Na sala, a professora exigente ameaçava com régua de pau. Confesso que um dia levei um livro na cabeça porque escrevei meu nome com “J”. Culpa da minha irmã, que me ensinou errado. Até hoje não esqueço disso.

    Estudei nessa escolinha pública por oito anos. Quando saí, para frequentar o Segundo Grau (era assim a classificação pedagógica), a nossa escola municipal era um brinco. Quadra esportiva, muitas salas de aula, pátios limpos e samambaias penduradas deixavam mais bonitos os corredores.

    Tínhamos laboratório com microscópio e outros apetrechos que ajudavam na didática e na criatividade. Participei de eventos de pesquisa fora da escola que também tinha uma horta grande e diversificada.

    Muita coisa plantada e colhida com a ajuda dos alunos ia para a merenda escolar - sim, nós íamos para os canteiros sujar as mãos. Particularmente gostava do recreio quando a caneca de “todinho” vinha acompanhada de fatias de pão caseiro recheadas com banana frita.

    Na sala de aula a professora de régua de pau foi substituída por outros mestres à medida que a gente ia progredindo no aprendizado e na idade. Na quinta ou sexta série o professor de Matemática era um terror. Mas ajudou muito a fazer entender as equações e as percentagens. E na Ciências e Geografia descobrimos novos horizontes e possibilidades.

    Bons tempos que ainda ajudam a compreender o mundo!

    Hoje, olhando para trás percebe-se que a escola perdeu seu rumo. A maioria dos diretores não têm a mesma característica do “seu” Odilon, que mais tarde virou meu amigo. Tinha orgulho do resultado das crianças que tinham passado pelo seu olhar austero. Sua magreza não era obstáculo para impor a autoridade que lhe cabia.

    Nesta semana, o Ministério da Educação divulgou mais uma pesquisa que afere o ensino público e privado do Brasil. Uma lástima. Perdemos o princípio da qualidade do ensino e tentamos tatear um futuro num emaranhado de pedagogias e ideologias. A gestão piorou, não por falta de dinheiro, mas por falta de qualificação, abnegação e dever de ofício.

    Creio que uma das falhas é não apostar no certo, no correto. O professor da escola pública, por exemplo, prefere colocar seu filho na escola paga. E a escola privada paga um salário menor que a pública. O secretário da Educação não confia em deixar seu filho numa escola dita pública, assim como o prefeito, o deputado ou o senador, ou o pequeno empresário ou o profissional liberal.

    Michel Temer, o presidente, matriculou o seu “Michelzinho” numa das escolas mais caras do Brasil. Lá são oferecidas diversas matérias, e duas ou três línguas.

    Quando eu era pequeno, tínhamos inglês. Sim, não era lá essas coisas (aprendíamos o basicão), porque também naquela época faltava maior apoio nessa área.

    Enfim, a política da educação é um dever do estado, mas também um compromisso dos professores, dos pais e da vizinhança. Sem esse componente, veremos a qualidade cair pelo ralo.


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