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  • 05/05/2021 08h01

    CPI DA PANDEMIA: Mandetta disse que recomendou expressamente que Bolsonaro não fosse contrário ao isolamento social sob pena do aumento de mortes e colapso da saúde

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    Foto: Edilson Rodrigues/ Ag. Senado

    Henrique Mandetta

    ( Publicada originalmente às 13h 30 do dia 04/05/2021) 

    (Brasília-DF, 05/05/2021) O ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta( DEM), disse durante a sessão desta terça-feira, 4, da CPI da Pandemia, em resposta ao senador Tasso Jereissati(PSDB-CE) que fez recomendações expressas ao Presidente Jair Bolsonaro(sem partido) durante o tempo em que esteve no cargo de que ele não deveria insitir em ações que não recomendasse o isolamento social. Ele disse que se isso não fosse efetivo morreiam mais pessoas atingidas pela covid-19.

    “Alertei sistematicamente, inclusive fazendo as projeções. A projeção de 180 mil óbitos até 31 de dezembro e, na verdade, nós tivemos 191 mil. Nós erramos por 11 mil. Eu dei por Estado e por cidade.”, disse, em resposta a Tasso Jereissati.

    Veja o diálogo:

    O SR.TASSO JEREISSATI: O senhor falou uma coisa que me chamou a atenção: que o senhor presenciou, determinada vez, uma reunião com vários médicos, e, inclusive, o filho do Presidente estava presente também, em que esses médicos contrariavam as suas indicações e as suas recomendações. Esses médicos tinham alguma teoria, alguma argumentação científica, alguma base histórica na contra-argumentação? O senhor falou aí do Ministro Osmar Terra, e a pergunta é – ele foi o grande defensor, contra o isolamento social e repetia que não iria haver mais de 2 mil mortes –: ele tinha alguma teoria atrás disso ou era apenas uma opinião pessoal dele? E qual foi a argumentação dele, por exemplo, dentro dessa mesma ideia, que eu quero entender, o que tinha atrás do pensamento do Presidente e de seus assessores, para que não fosse feita uma campanha que todos os países do mundo estavam fazendo àquele momento?

    O SR. LUIZ HENRIQUE MANDETTA (Para depor.) – É muito difícil você entender qual é a teoria. A impressão que eu tenho é que havia algumas teorias que eram mais simpáticas. Uma delas era: o brasileiro vai se contaminar, ele mora em aglomerados, ele mora sem esgoto, então, vai se atingir o coeficiente de proteção de rebanho. Acho que essa pode ter sido talvez a inspiração dessas pessoas para levar até o Presidente, eu acho que esse era um argumento que eles poderiam colocar nesses termos.

    Nessa reunião desses médicos com os outros ministros, não estavam os filhos não, estavam outros ministros, vários, Jorge Ramos, estava Barra Torres, estava Ministro Heleno, enfim... Olha, você sobe para a reunião e estavam dois médicos, aquela Nise Yamaguchi, que era chamada para dar essas coisas sobre cloroquina...

    Eu acho que basicamente existia outra versão. Nós tínhamos um caminho, nós tínhamos uma caminhada com o que tínhamos ali do Ministério da Saúde, acoplado com tudo que a gente tinha de instituições mais históricas, Adolfo Lutz, Fiocruz, fazendo, ligando com Harvard, ligando com o que a gente tinha de melhor e convivendo. Era uma época, e isso é comum em pandemia, começam teorias, elas brotam diariamente: teorias sobre o teste, teorias sobre... Porque é o desconhecido, a ciência vai tateando. Há pessoas que, embora tenham feito essa previsão que o senhor cita do nosso colega de Câmara, o Osmar, ainda hoje ele falou: "Está vendo, agora estão caindo os casos, conforme eu previ". Nós estamos em 410 mil, ele previu 800, mas ele está mantendo firme que é conforme a previsão dele. São pessoas que acreditam, não é uma coisa assim... Eles acreditam naquele caminho. Não é errado acreditar naquele caminho, só que as evidências científicas têm que ser a base para a tomada de decisão.

    Então, o que eu posso dizer, Senador Tasso, é isso. Se eu alertei o Presidente? Alertei, falei. Só o término, o final dessa carta: "Nesse sentido, tendo em conta que a atuação do Ministério da Saúde no preparo, vigilância e resposta à pandemia, em consonância com o regulamento sanitário internacional do decreto de 30 de janeiro de 2020, fundamenta-se nos fatos apurados, nas evidências científicas e na observância dos princípios e regras que alicerçam os direitos e garantias fundamentais de todo cidadão brasileiro, recomendamos expressamente que a Presidência da República reveja o posicionamento adotado, acompanhando as recomendações do Ministério da Saúde, uma vez que a adoção de medidas em sentido contrário poderá gerar colapso do sistema de saúde e gravíssimas consequências à saúde da população brasileira".

    Quer dizer, tudo o que eu podia fazer em termos de orientar "não vai nesse caminho, que esse caminho é extremamente perigoso" foi feito. Agora, ele tinha provavelmente outras pessoas que diziam: "Olha, isso que o Ministro da Saúde está falando está errado; vá por esse caminho". É uma decisão dele.

    O SR. PRESIDENTE (Randolfe Rodrigues. Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - AP) – Senador Tasso, mais alguma pergunta ao depoente? (Pausa.)

    Só liga o som do Senador Tasso.

    O SR. TASSO JEREISSATI (Bloco Parlamentar PODEMOS/PSDB/PSL/PSDB - CE) – Ele tinha consciência de que não adotando as posições científicas aceitas mundialmente as consequências poderiam ser de uma mortandade em enorme escala no Brasil?

    O senhor... V. Exa. alertava ele...

    O SR. LUIZ HENRIQUE MANDETTA – Sim, senhor.

    O SR. TASSO JEREISSATI (Bloco Parlamentar PODEMOS/PSDB/PSL/PSDB - CE) – ... qual era a consequência da não obediência a esses ditames internacionais?

    O SR. LUIZ HENRIQUE MANDETTA – Sim, senhor.

    Alertei sistematicamente, inclusive fazendo as projeções. A projeção de 180 mil óbitos até 31 de dezembro e, na verdade, nós tivemos 191 mil. Nós erramos por 11 mil. Eu dei por Estado e por cidade.

    (da redação com informações da taquigrafia do Senado Federal. Edição: Genésio Araújo Jr)


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