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  • Contato Brasil, 28 de março de 2024 17:55:06
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  • 02/04/2021 07h24

    Em entrevista a jornalista que cunhou o termo “petralha” para se referir a petistas, Lula fala que está “livre da Lava Jato” e pede que Bolsonaro comece a governar

    Ex-presidente disse que não vai tratar de 2.022 em 2.021, denunciou prejuízo que Lava Jato causou ao país e disse que Dilma caiu por causa de Eduardo Cunha e que sua prisão foi para evitar que o PT governasse o país por 24 anos consecutivos
    Foto: imagem de Streaming

    Lula deu entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo

    ( Publicada originalmente às 23h 02 do dia 01/04/2021)

    (Brasília-DF, 02/04/2021) O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira, 1º de abril, que está “livre da Lava Jato” e pediu que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comece a governar, garanta vacinação para todos os brasileiros, que é o que vai permitir que o país retome a rota do crescimento econômico.

    A afirmação do ex-presidente aconteceu em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, da rádio e TV “BandNews”, que cunhou o termo “petralha” no início dos anos 2.000, quando se tornou o mais ferrenho crítico das gestões que Lula teve a frente do governo federal.

    Na oportunidade, Lula iniciou sua fala denunciando a operação Lava Jato, que segundo ele, entre 2.014 e 2.020, levou o país a ter um prejuízo de R$ 300 bilhões na sua economia, de levar 4,4 milhões trabalhadores a perderem o emprego, de quebrar empresas, e ter como objetivo a “destruição dos partidos”, a “desmoralização do Congresso” e do Supremo Tribunal Federal (STF).

    “Tem uma coisa que eu disse antes de ser preso. Quando começou o processo da Lava Jato, eu tinha consciência que o objetivo da Lava Jato era tentar encontrar um pretexto para tentar tirar o Lula da política. Eu sempre tive isso na cabeça. Então, houve várias mentiras. Ante de dizer como eu acordei [no primeiro dia na prisão], quando eu fui prestar depoimento ao Moro. Não sei se você está lembrado, vocês estão condenados a me condenar por que vocês deixaram a mentira de vocês irem longe demais. Você não sabe a frustração que eu tive, que eu esperava que o Dallagnol fosse na audiência, por que foi ele que fez a história mentirosa do power point, do quadrilhão do PT, que muitos setores da imprensa venderam como verdade e depois o quadrilhão foi anulado na justiça federal de Brasília, mas eu continuei com os processos”, iniciou.

    “Olha, eu estava no sindicato, você deve ter acompanhado e tinha muitas decisões para mim [sic] tomar. Tinha gente que queria que eu fosse para alguma embaixada, tinha gente que queria que saísse do Brasil e eu tomei a decisão de não sair do Brasil e nem ir para uma embaixada por que eu já tenho bisnetos e eu não queria que aparecesse uma fotografia minha no jornal me chamando de fugitivo. Então eu resolvi, tomei a decisão de ir para a Polícia Federal em Curitiba, de livre e espontânea vontade, por que eu queria provar lá dentro, que eles eram mentirosos. E graças a deus, eu digo sempre que eu tenho a mão de deus, ou da minha mãe, guiando os meus passos, por que eu sou um homem que não costume acumular ódio dentro de mim e quando eu cheguei na cadeia, eu fiquei pensando que não é possível essa gente tenha inventado uma mentira, sem prova nenhuma, e quando cheguei fui conversar com o delegado, fui para a sala com o advogado, arrumei a minha cama, o cara [carcereiro] queria que tirasse o meu cinto, cadarço do sapato e aí eu falei cara, não vim aqui para me enforcar, eu vim aqui para provar que o Moro é mentiroso, eu vim aqui para provar que a força tarefa da Lava Jato e eu não confundo nunca com o Ministério Público, por que o Ministério Público é uma instituição que eu aprendi a respeitar muito, mas agora eles tem que ser sério para merecer respeito”, continuou.

     

    Prisão

    Na sequência, Lula falou como foi sua passagem durante os 580 dias em que esteve detido por decisão do ex-juiz Sérgio Moro e ratificada pelo Tribunal Regional Federal (TRF), da quarta região, de Porto Alegre (RS), e que recentemente teve a sentença anulada pelo ministro do STF, Edson Facchin, ao mesmo tempo em que a Suprema Corte confirmou que Moro agiu com parcialidade contra ele em seu julgamento.

    “Cidadão que tem a autoridade que tem um procurador, ele não pode agir como criança, ele não pode agir de forma messiânica, ele tem que acusar quando ele tem prova. E quando ele tem a prova, ele que denuncie para a imprensa, mas antes de ter a prova não pode fazer o que fizeram comigo. Então cheguei lá e disse, cidadão, eu não vim aqui para me enforcar, eu vim aqui para provar que eles são mentirosos. E dormi tranquilo e ainda disse para ele, eu vou dormir mais tranquilo que o Moro vai dormir. Em nenhum momento eu baixei a cabeça para as infâmias que eu estava recebendo. E eu fui para lá de cabeça erguida. Eu estava preso e muitas vezes vinha uma auditoria do Ministério Público visitar, às vezes um delegado entrava lá e eu dizia, eles perguntavam: tudo bem? Eu dia dizia que estaria tudo bem até eu desmascarar o Moro e desmascarar o Dallagnol. Inclusive, alguns delegados, que mentiram nos inquéritos, eu conheço todos eles, essa gente acredita que a terra é plana e eu acredito que a terra é redonda e o mundo gira e essa verdade vai vir à tona”, complementou.

    “Eu estou muito tranquilo por que a Lava Jato saiu da minha vida. É o que eu queria desde 2.016, quando os meus advogados fizeram o primeiro habeas corpus. A gente dizia que não tinha nenhum indício para me levar para Curitiba, mas era preciso me levar para me tirar das eleições. Se eu não entrasse na Lava Jato não tinha valor a Lava Jato, era preciso pegar o Lula por que o objetivo era tira o Lula das eleições. Pis bem cinco anos depois, o facchin toma a decisão. Então hoje eu posso te dizer, que eu não tenho mais nada com a Lava Jato, que eu continuo dormindo tranquilo e tenho certeza que o Moro não dorme tranquilo, que o Dallagnol não dorme tranquilo e eu tenho certeza que essa gente vai ser julgada ainda. Essa gente não pode achar que não fez nada para esse país e ficarem impunes”, completou.

     

    Prejuízos

    Com os números em mãos, Lula detalhou o prejuízo que a economia brasileira teve, segundo ele, graças a operação Lava Jato.

    “Eles deram um prejuízo ao país de R$ 172 bilhões que deixaram de ser investidos. Eles deram um prejuízo de R$ 47 bilhões em impostos que deixaram de ser arrecadados, R$ 20 bilhões sobre folha de pagamento e R$ 85 bilhões da mata salarial. A Lava Jato é responsável e o resultado disso tudo são quatro milhões e 400 mil trabalhadores que perderam o emprego no período da Lava Jato”, pontuou.

     

    Momentos difíceis

    A seguir o ex-presidente passou a relatar os momentos difíceis que viveu desde 2.016, quando a operação Lava Jato deu início as investigações e julgamentos contra ele.

    “Eu tenho muito controle psicológico para não fazer disso uma raiva sistematizada. Então uma coisa que eu cuido bem por que eu sei o que é o preconceito, que eu sofri ele na pele a vida inteira. Mas eu confesso que quando a Dona Marisa foi para o hospital, você não tem noção, as pessoas tirando fotografia dela na UTI e fazendo deboche. Você não tem noção, quando morreu o meu neto, o filho do Bolsonaro mais novo, tuitou no twitter dele que graças a deus ele tinha tido uma notícia boa naquele dia. Daí aconteceu a morte do meu irmão, que era o meu irmão mais velho e que eu fiz gestão junto aos meus advogados que pediram ao delegado e ao Moro que eu viesse no enterro do meu irmão, pelo menos visitar. E aí tomaram uma decisão pouco singular: ou seja não deixaram eu visitar o meu irmão na casa dele, onde ele estava, no cemitério e queria que eu fosse para o quartel do segundo exército em São Paulo e que levassem o caixão do meu irmão para me visitar. Era a primeira vez que o defunto iria visitar o parente e não o parente que iria visitar o defunto. E aí eu tomei a decisão de não ir. Foi uma decisão um pouco macabra, uma decisão que eu infelizmente não esqueço nunca, mas foi isso que aconteceu. Então foram esses os momentos difíceis”, confessou.

     

    Sociedade acovardada

    Lula reclamou também que a sociedade brasileira teria se acovardado perante a Lava Jato, no que ele considera fator preponderante no prejuízo que a economia do país sofreu com os resultados das investigações, que, de acordo com ele, não tinham como objetivo a preocupação em acabar com a corrupção e, sim, apenas tinha um objetivo político.

    E falou que os dirigentes indicados por ele não foram denunciados, ou se acusados, a “denúncia caiu por terra”. Disse que as irregularidades foram encontradas, em sua maioria, em dirigentes da estatal petrolífera que eram profissionais de carreira da empresa com mais de 30 anos de serviços prestados.

    “Aliás eu gostaria de dizer uma coisa aqui agora. Eu quero até agradecer, por que eu não tive a oportunidade, mas o Jonny Saad [presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicação] foi o Único empresário em todos esses cinco anos de tortura, que num programa na Bandeirantes, num debate que houve na Bandeirantes, dia 24 de junho de 2.019, ele fez um pronunciamento dizendo que era possível combater a corrupção sem precisar destruir as empresas e nem precisar destruir os empregos. Eu cansei de falar para os empresários defenderem as empresas e os empregos e a verdade é que a sociedade brasileira se acovardou. Eu nunca vi tanta gente covarde, que não teve coragem de defender sequer os empregos dos trabalhadores que foram vítimas e que não cometeram nenhum erro”, observou.

    “É uma bobagem falar em divisão pelos partidos. A Petrobras é um monstro em que eu dizia para todo mundo ouvir: na outra encarnação o presidente da Petrobras tem que ser eleito diretamente pelo voto e o presidente da República ser escolhido por ele. Por que a capacidade de investimentos da Petrobras, a capacidade de pesquisa da Petrobras é maior do que a do governo. A Petrobras é uma empresa que no final de 2.010 estava investindo R$ 40 bilhões por ano não era pouca coisa. A Petrobras tem ennes diretorias e eu acho que pode ter havido corrupção. Se houve corrupção, tem que apurar. Detectou a corrupção, prenda as pessoas. O que a Lava Jato fez? Ela premiou todos os ladrões. Todos os ladrões estão fumando charutos cubanos, tomando rum cubano, às nossas custas. Eles entregaram U$ 100 milhões, mas com quanto ele ficou? Por que o objetivo da Lava Jato era menos combater a corrupção e tinha um objetivo político. A Lava jato imaginava destruir os partidos, desmoralizar o Congresso, a Suprema Corte e eles tinham um projeto político. O Moro foi tratado como se fosse deus”, emendou

     

    Rumos

    Questionado sobre como pretende dispor a economia num provável novo governo seu, Lula arrematou dizendo que quer o mercado investindo no setor produtivo junto com o Estado e não mais vivendo “de dividendos” dos juros da dívida pública paga pelo governo.

    “Um ex-trotsquista não precisa virar tão liberal a ponto de não reconhecer o papel que o Estado tem na sociedade. A Petrobras não é uma empresa estatal. Ela é uma empresa pública de economia mista com ações na Bolsa de Nova Iorque. O Banco do Brasil não é um banco estatal. É um banco de economia mista, tem ações. Olha, acontece que eu sou contra o governo empresarial. Eu vou repetir para que ninguém tenha dúvida: eu sou contra o governo empresarial, mas eu sou favorável a um governo que seja indutor do processo de desenvolvimento”, anunciou.

    “Depende de alguns setores. Os setores estratégicos não serão privatizados. É importante dizer isso agora. Eu acho que Furnas não pode ser privatizada. Ela pode ser uma empresa de economia mista. A Eletrobras pode ser uma empresa de economia mista. A Caixa Econômica pode ser uma empresa de economia mista. Eu não quero empresas estatais inchadas, que empresas de economia, com o Estado estando presente e possa decidir, através de conselho de desenvolvimento, aonde vai se fazer investimento. Esse mercado quer viver de dividendos, quer viver de juros do governo. Este mercado tem que dizer o que ele está fazendo de investimento no setor produtivo”, reforçou.

     

    Bolsonaro

    Sobre Bolsonaro, falou que o atual presidente brasileiro “brinca com a saúde” e “inventa remédio”.

    “Eu queria expressar a minha solidariedade aos 12 milhões de casos no Brasil e os 320 mil mortos. Somente ontem [quarta], morreram quase 4 mil pessoas. Queria expressar minha solidariedade às famílias dos mortos e ao pessoal da saúde. Nós estamos vivendo um genocídio praticado pela irresponsabilidade de um único homem. Que brinca com a saúde, que inventa remédio. Nós estamos vivendo um genocídio praticado pela irresponsabilidade de um único homem. Que brinca com a saúde, que inventa remédio. Queria aproveitar a Bandeirantes para mandar um recado: Bolsonaro, quando é que você vai assumir a responsabilidade, parar de brincar e governar o país? Fecha a boca Bolsonaro. Deixa os médicos falar por você. Da mesma forma que você não sabe falar sobre economia, não fale sobre saúde. Deixa o pessoal do SUS, deixa o seu ministro falar, os governadores, os prefeitos”, se manifestou.

    “Ele tirou o cara [Ernesto Araújo] e colocou alguém que nunca foi embaixador [Carlos Alberto França]. Esse cara não tem cacife para ser ministro de um país do tamanho do Brasil. Ele poderia ter escolhido um embaixador conservador, um embaixador liberal, mas escolheu alguém só porque é próximo da família Bolsonaro. Esta crise é uma guerra da natureza contra a humanidade. É uma guerra que espalhou pelo planeta inteiro. Não tem país rico, país pobre. A única solução para ela é a vacina. E a gente ainda não sabe se a vacina serve para todas as cepas. Espero que o Bolsonaro esteja assistindo essa entrevista. Porque queria mandar um recado pra ele: Deixe de ser ignorante, presidente. Quando tiver vacina pra todo mundo, aí todo mundo vai querer voltar a trabalhar. E o país vai crescer. Qual é a confiança que Bolsonaro passa ao povo brasileiro? Que confiança Guedes passa? Essa gente não fala em povo e em política social. o Guedes precisa dizer como o estado vai fazer investimento”, comentou.

     

    PT

    Indagado sobre como o PT se comportará em 2.022 na busca de aliados, Lula falou que o partido procurará aliados à esquerda e se for preciso, irá até lideranças do centro político para tentar vencer as eleições presidenciais.

    “O PT é um partido grande. Vamos construir alianças com setores de esquerda. Se for preciso alianças com o centro, vamos tenta. Aprovo qualquer manifesto que defenda a democracia. Mas todos eles tiveram a chance de deixar a democracia garantida e votar no Haddad [na eleição de 2018]. Mas preferiram votar em Bolsonaro”, respondeu.

     

    Centro ampliado

    Questionado sobre o manifesto em defesa da democracia assinado pelo seu ex-ministro Ciro Gomes (PDT), em conjunto com os governadores do PSDB do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e de São Paulo, João Dória Jr., e também com o presidente do NOVO, João Amoedo, e com o apresentador da “TV Glovo”, Luciano Hulck, Lula disse que toda iniciativa em defesa da democracia é boa, mas que ninguém fabricará candidato a presidente do Brasil e quando isso acontece, o resultado é “nefasto”.

    “Tome muito cuidado com isso, quando tenta pescar em terra seca, não tem peixe. Num país deste tamanho, você não inventa candidato. Quando inventa, o resultado é nefasto. Neste ano de 2021 não quero discutir 2022. Este ano é ano de todos nós que temos responsabilidade fazermos um esforço para que este país tenha vacina para todo mundo, que é a única garantia que vamos ter. Precisamos ter auxílio emergencial pro trabalhador poder ficar em casa e comer. Precisamos de auxílio pro microempreendedor poder continuar existindo. Sou favorável e aplaudo qualquer manifesto que defenda a democracia, agora todos esses tiveram a chance de garantir a democracia votando no Haddad. Essa gente preferiu votar no Bolsonaro. Se for preciso chegar no centro para ganhar as eleições, a gente vai procurar”, abordou.

     

    Magazine Luíza

    Sobre a possibilidade da empresária Luiza Trajano ser sua candidata a vice-presidente, Lula disse que não acredita que a proprietária se meterá em política.

    “Eu tive uma extraordinária relação com a Luiza Trajano quando eu fui presidente da República, a Dilma também teve uma boa relação com ela. Ela é uma mulher excepcional e eu não acredito que a Luiza Trajano se meta na política”, analisou.

     

    Dilma

    Sobre a queda da ex-presidente Dilma Rousseff em 2.016 por um processo de impeachment causado por ela ter utilizado recursos da Petrobras para pagar programas assistenciais, que ficou conhecido como “pedaladas fiscais”, o ex-presidente falou que sua sucessora só caiu por que teve um presidente da Câmara que impediu ela de fazer as correções de rumo que o governo precisava.

    “Se pedalada derrubasse governo ou fosse crime, não tinha um governo que chegasse ao final. O que derrubou a Dilma foi que se não tirassem ela, o PT corria o risco de governar esse país por 24 anos. Diferente do FHC, que tava na situação da Dilma, e tinha o Michel Temer como presidente da Câmara para aprovar o que ele quisesse, a Dilma tinha o Eduardo Cunha que barrava tudo que era mandado. Aí ela não conseguiu conter a crise”, finalizou.

     

    (por Humberto Azevedo, especial para a Agência Política Real, com edição de Genésio Jr.)

     

     


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