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( Publicada originalmente às. 18h 00 do dia 20/05/2025)
Com EuroNews.
(Brasília-DF, 21/05/2025) Passado o super final de semana de eleições europeias os partidos de centro-esquerda estão perdendo a conexão com os eleitores, num mo
mento em que as questões sociais são prementes, dizem os especialistas à Euronews.
Os líderes europeus apressaram-se a felicitar o centrista Nicusor Dan pela dramática vitória de domingo nas eleições presidenciais da Roménia sobre o seu rival de extrema-direita, George Simion.
Dan obteve 53,6% dos votos, à frente de Simion, que durante a campanha apresentou-se como defensor de valores nacionalistas e políticas conservadoras semelhantes às do presidente dos EUA, Donald Trump.
Em contrapartida, Dan - o presidente da Câmara de Bucareste, pró-UE e pró-NATO - tinha prometido manter a nação na corrente europeia e apoiar a vizinha Ucrânia, assim, a sua vitória é um enorme alívio para a UE e para a Ucrânia, numa altura em que a Europa enfrenta desafios cruciais.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ofereceu apoio para construir "uma Roménia aberta e próspera numa Europa forte".
Também o presidente do Conselho da UE, António Costa, afirmou que os resultados mostram "um forte sinal da adesão dos romenos ao projeto europeu".
Jean-Michel De Waele, cientista político da Universidade ULB, em Bruxelas, disse à Euronews que só o tempo dirá se o resultado é um revés para os nacionalistas europeus, mas sublinhou que os líderes não podem ignorar a raiva dos eleitores anti-establishment.
"Há muitos problemas para resolver e os cidadãos da União Europeia nesta parte (da Europa) não estão convencidos da UE", afirmou.
"Afinal de contas, 46% dos cidadãos romenos votaram em Simion. Por isso, a UE pode regozijar-se, mas não deve esquecer e não deve dizer «Percebemos a mensagem, vamos mudar a comunicação. Tudo continua como sempre»", defende Waele.
Políticas concretas e posições fortes
Paralelamente à Roménia, a Polónia e Portugal foram às urnas naquele que acabou por ser o "Super domingo" das eleições europeias.
Na Polónia, o candidato pró-europeu Rafał Trzaskowski venceu o primeiro turno, à frente do conservador Karol Nawrocki. Os dois enfrentar-se-ão no segundo turno em 1 de junho.
Em Portugal, a aliança de centro-direita AD, no poder, venceu as eleições legislativas antecipadas, mas não conseguiu obter a maioria, enquanto o partido de extrema-direita Chega registou ganhos recorde.
O Partido Socialista (PS), de esquerda, perdeu 20 lugares no Parlamento, o que levou à demissão do líder do partido, Pedro Nuno Santos.
Os partidos tradicionais de esquerda estiveram em queda livre nas três eleições. De Waele afirmou que, na Roménia, a falta de apoio do centro-esquerda ao candidato pró-UE foi uma grande surpresa.
"Há uma crise de identidade na Europa e os partidos de esquerda não têm muito para oferecer e não se questionam muito", explicou De Waele.
"O PSD romeno é membro do Partido dos Socialistas Europeus, que apoia a democracia, mas isso é completamente insuficiente. Por isso, penso que mostra uma falta de direção, uma falta de liderança", acrescentou.
No primeiro turno das eleições presidenciais polacas, os dois candidatos de direita enfrentaram-se sem qualquer candidato de esquerda.
De acordo com De Waele, as dificuldades dos partidos de centro-esquerda na Roménia, na Polónia e em Portugal têm que ver com a perda de contacto com os seus eleitores tradicionais. "Vemos isso claramente em Portugal. As zonas onde o Partido Comunista Português, ou a esquerda, eram fortes estão a ser devoradas pela extrema-direita", adianta. "Por isso, perderam o contacto com o público, não têm muito para oferecer em termos de discurso, de sonho, de projeto social. E estão numa situação muito, muito difícil".
Nos últimos tempos, os sociais-democratas alemães e húngaros têm tido dificuldade em conquistar eleitores face aos seus rivais de direita ou de centro-direita. Isto deve-se, em parte, a um problema de liderança, segundo De Waele.
"Penso que precisamos de líderes fortes que se atrevam a agir. Hoje, ser de esquerda é quase vergonhoso. É como se já não houvesse orgulho, como se já não houvesse um projeto, como se a social-democracia tivesse perdido o seu projeto", lamenta.
De Waele acredita que a crise de liderança é uma das causas da viragem de muitos eleitores para líderes orientados para a ação. "Penso que os cidadãos estão a exigir políticas concretas e os governos estão a tomar posições fortes. É também por isso que Trump é tão bem sucedido. É um tipo de líder populista muito forte".
O politólogo afirma ainda que parte da vitória dos líderes populistas se deve ao facto de dizerem "vou fazer algo por vocês". "E penso que, infelizmente, a esquerda moderada ou a direita moderada estão paralisadas e não têm propostas fortes", concluiu De Waele.
( da redação com Euro News. Edição: Política Real)