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( Publicada originalmente às 19h. 45 do dia 10/02/2025)
Com agências
(Brasília-DF, 11/02/2024) O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou, na noite desta segunda-feira, 10, ações executivas que impõem tarifas sobre as importações de aço e alumínio. Trump determinou uma tarifa de 25% sobre alumínio e aço, de acordo com a agência de notícias AFP, e cancelou isenções e cotas livres de impostos para grandes fornecedores como Canadá, México, Brasil e outros países.
"Hoje estou simplificando nossas tarifas sobre aço e alumínio", afirmou Trump. "É 25% sem exceções ou isenções."
Detalhes do plano de Trump ainda não foram anunciados — prevê-se que isso seja divulgado ainda esta semana.
Brasil
A decisão do presidente Trump vai afetar as exportações brasileiras. O Brasil, um dos principais fornecedores de aço e alumínio para os Estados Unidos, vinha ampliando sua participação no mercado americano há dois anos.
O total de aço vendido pelo Brasil aos EUA cresceu 74% entre 2022 e 2024 e já ocupa uma fatia de 15% do volume de importações americanas do metal. No ano passado, os Estados Unidos compraram 4 milhões de toneladas de aço brasileiro, a um total de 2,9 bilhões de dólares (R$ 16,7 bilhões).
Isso fez do Brasil o segundo maior exportador do produto em volume para o mercado americano, atrás apenas do Canadá. No caso do alumínio, foram 147,2 milhões de dólares (R$ 850 milhões) vendidos em 2024, ou 42 mil toneladas – o 14º país que mais exportou o produto aos EUA.
Os dados são do painel de monitoramento do comércio global, mantido pela Administração de Comércio Exterior dos Estados Unidos. Para o aço, a plataforma considera a importação de planos, semiacabados, canos e tubos e outros produtos. São também calculados o alumínio bruto, em folhas e tiras, arame, barras, vergalhões, canos, peças fundidas e forjadas e acessórios.
Segundo o Comex Stat, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços que compila a balança comercial brasileira, os EUA foram o principal destino de ferro e aço do Brasil e o segundo país que mais adquiriu alumínio brasileiro em 2024. Os metais são essenciais em indústrias como a automobilística, construção civil, máquinas e energia.
Em 2018, em seu primeiro mandato, Trump realizou um movimento parecido e estipulou uma tarifa de 25% sobre o aço e 10% sobre alumínio importado. Contudo, posteriormente, o presidente americano concedeu isenções a vários países, incluindo Canadá, México e Brasil, limitando o benefício alfandegário a uma cota, agora cancelada por decreto.
O impacto sobre o mercado interno
O coordenador de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, Josemar Franco, avalia que a atual medida será desafiadora para o Brasil, especialmente sem as isenções. Isso porque, em 2018, as tarifas afetaram principalmente a China, que passou a procurar outros mercados, como o latino-americano, para vender seus produtos a preços mais baixos.
Na prática, a barreira alfandegária americana gerou uma competição mais ferrenha no mercado interno brasileiro.
"O que a gente observou depois dessa primeira medida é que houve um redirecionamento das exportações chinesas para o Brasil com preços muito agressivos por uma série de fatores, o que faz com que a indústria doméstica, mesmo com as alíquotas [protetivas brasileiras], não tenha condições de competir com esses preços chineses", disse Franco à DW.
"Se os chineses continuarem agressivos em termos de preço, o Brasil vai precisar adotar medidas para conter importações, já temos visto medidas antidumping, [por exemplo]", completou.
As tarifas também chegam em um momento em que o setor já enfrenta pressão sobre o preço da commodity e após iniciar um ano com estimativas de queda na produção do aço bruto. Franco também reforça o desafio logístico de competir com Canadá e México, cujo envio do produto aos EUA é mais barato.
"Condições mais difíceis para exportar é algo ruim, mas não ter condições justas nem dentro de casa é pior ainda", afirmou.
Para o ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, Welber Barral, o mercado interno pode ajudar a absorver o impacto negativo da medida sobre as exportações. "Comparado à produção, a exportação brasileira é pequena. A indústria depende muito do mercado interno, tanto de aço como de alumínio. Claro, as empresas querem continuar a exportação. É importante, em dólar, um mercado premium. Mas o impacto não é tão grande", disse Barral.
Arno Gleisner, diretor de Comércio Exterior da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil, acredita que levará um tempo até que a produção nacional americana ocupe o espaço deixado pelas importações. "A aplicação de taxas para importação de aço nos Estados Unidos foi estendida a todos os exportadores. Favorece a indústria americana, mas esta não poderá atender o mercado em substituição às importações, pelo menos no curto e médio prazo. Então em princípio não ocorreria uma situação desfavorável para o Brasil", disse.
Gleisner ainda acredita que a estratégia de disputa tarifária do presidente americano não deve recair exclusivamente sobre o Brasil. "Uma busca de uma equalização de taxas por parte dos Estados Unidos com o Brasil é pouco provável, pois hoje os Estados Unidos já contam com uma balança comercial favorável em relação ao Brasil. Esta equalização de taxas é muito mais provável que ocorra com países com os quais os Estados Unidos tem déficit na balança comercial."
( da redação com informações da Reuters, dpa, DW. Edição: Política Real )