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AUXÍLIO EMERGENCIAL: Pessoas na extrema pobreza no Brasil chegam a 3,3% em junho, a maior queda em 40 anos; pesquisador disse que se economia não reagir haverá recuo
29/07/2020 08h14
Foto: Montagem Política Real

( Publicada originalmente às 19h 00 do dia 28/07/2020) 

(Brasília-DF, 29/07/2020) Nesta terça-feira, 28, foi divulgado pela Fundação Getúlio Vargar estudo do pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Covid 19 (Pnad Covid-19) de junho, mostrando que a taxa de pobreza extrema (população vivendo com menos de 1,90 dólares por dia, equivalente a R$ 154 mensais) caiu de 4,2% para 3,3%, enquanto a pobreza (população vivendo com menos de 5,50 dólares por dia, equivalente a 446 mensais) também caiu de 23,8% para 21,7%.  Essa é a maior redução da pobreza em tão curto período nos últimos 40 anos.

Tais reduções coincidem com um aumento da cobertura do auxílio emergencial, que passou de um antedimento de 45% para 50% da população entre maio e junho, que beneficiou principalmente os mais pobres. Tais níveis são os menores já registrados por todas pesquisas domiciliares brasileiras - apesar de que a comparação não é perfeita, por se tratarem de desenhos diferentes.

“Supondo que o governo lance o Renda Brasil logo após o auxílio emergencial, o volume de transferência para as famílias será muito menor. Não há dúvida de que, se não houver uma forte recuperação do mercado de trabalho, voltaremos a ver novos aumentos da taxa de pobreza nos próximos meses. O maior risco é aumentar tanto a taxa de pobreza e chegarmos a níveis menores do que tínhamos em 2019, 2018. Esse é o principal risco”, afirmou Daniel Duque.

O pesquisador Daniel Duque, que fez esse estudo  para FGV, comentou no Twitter a repercussão do que foi divulgado.

“Hoje teve bastante repercussão a matéria para a qual fiz o levantamento mostrando a queda da pobreza no Brasil.

Gostaria tecer alguns comentários sobre essa questão, para tentar qualificar mais esse importante debate.

Se puder, siga aqui o fio.

Vale sempre ressaltar que as pesquisas não são perfeitamente comparáveis, inclusive a PNAD-Covid pode ter viés de coleta, mas os números assim ainda surpreendem.

Não lembro de o país ter documentado antes queda do % de pobreza em meio a uma crise econômica, como a atual.

Surpreende também que, de maio para junho, os decis mais ricos da população tenham tido expressivos aumentos da renda para além do Auxílio Emergencial, ao contrário do resto.

Provavelmente, estaríamos observando aumentos expressivos da desigualdade sem o atual programa.

Mas, mesmo havendo menos pobres hoje, essa situação é, no mínimo, instável.

Claro que enquanto jogarmos R$ 50 bilhões por mês de transferências para trabalhadores informais e desempregados, vamos ver menos famílias abaixo da linha da pobreza, mas isso não é sustentável.

O Bolsa Família custa R$ 30 bilhões por ano, enquanto o BPC custa R$ 56 bilhões. Já o Abono custa R$ 17 bilhões.

Tudo isso junto em um ano inteiro não cobre dois meses de Auxílio Emergencial, e não estamos falando de pouco dinheiro.

O Brasil não gasta pouco em assistência social, comparativamente a países de nível semelhante de desenvolvimento.

Desse modo, comemoremos essa experiência que estamos vivendo, mas temos que pensar também no próximo momento.

O que acontecerá com todas as essas famílias quando acabar o dinheiro para o auxílio emergencial?

A economia vai se recuperar em velocidade suficiente para impedir grandes aumentos da pobreza? Tendo a crer que não. Assim, estamos sob riscos de forte retrocesso social.

Após essa crise, não creio que possamos nos contentar com o mesmo volume de gastos com transferências, o que é um problema tendo em vista nossas atuais restrições fiscais (quem me conhece sabe que sou bem reticente quanto a mexer muito no teto).

O ideal seria fazer um planejamento do aumento do gasto social em um horizonte de 5 a 10 anos, condicionado a reformas e mudanças estruturais.

Temos um tanto de privilégios que já passou da hora de mexermos. Pode não ser suficiente, mas ajuda no combate à pobreza.

Por fim, temos que ter em mente que transferências diretas são importantes, mas não são tudo.  Além de educação e saúde, @vobotelho mostra também que há fatores inclusive psicológicos que dificultam a superação da pobreza, como depressão de mães.”, disse em 11 postagens, em fio, no Twitter no final da tarde desta terça-feira.

Veja o quadro comparativo que mostra a evolução da pobreza e extrema pobreza:

 

Ano

Trimestre

Pobreza

Pobreza Extrema

mes

data

Base

2004

3

47,2%

13,3%

set

01/09/2004

PNAD

2005

3

45,4%

11,5%

set

01/09/2005

PNAD

2006

3

41,1%

9,6%

set

01/09/2006

PNAD

2007

3

38,7%

9,2%

set

01/09/2007

PNAD

2008

3

35,1%

7,4%

set

01/09/2008

PNAD

2009

3

33,4%

7,2%

set

01/09/2009

PNAD

2011

3

30,0%

6,2%

set

01/09/2011

PNAD

2012

3

25,7%

5,4%

set

01/09/2012

PNAD

2013

3

24,9%

5,6%

set

01/09/2013

PNAD

2014

3

22,8%

4,2%

set

01/09/2014

PNAD

2015

3

24,6%

5,1%

set

01/09/2015

PNAD

2012

1

27,8%

6,2%

mar

01/03/2012

PNAD-C

2012

2

26,6%

5,8%

jun

01/06/2012

PNAD-C

2012

3

26,0%

5,6%

set

01/09/2012

PNAD-C

2012

4

25,1%

5,4%

dez

01/12/2012

PNAD-C

2013

1

25,9%

5,4%

mar

01/03/2013

PNAD-C

2013

2

25,1%

5,2%

jun

01/06/2013

PNAD-C

2013

3

24,7%

5,2%

set

01/09/2013

PNAD-C

2013

4

23,5%

4,5%

dez

01/12/2013

PNAD-C

2014

1

22,4%

4,4%

mar

01/03/2014

PNAD-C

2014

2

22,8%

4,4%

jun

01/06/2014

PNAD-C

2014

3

23,0%

4,8%

set

01/09/2014

PNAD-C

2014

4

22,7%

4,2%

dez

01/12/2014

PNAD-C

2015

1

23,0%

4,7%

mar

01/03/2015

PNAD-C

2015

2

23,1%

4,6%

jun

01/06/2015

PNAD-C

2015

3

23,6%

5,0%

set

01/09/2015

PNAD-C

2015

4

25,1%

5,3%

dez

01/12/2015

PNAD-C

2016

1

25,3%

5,7%

mar

01/03/2016

PNAD-C

2016

2

25,3%

5,8%

jun

01/06/2016

PNAD-C

2016

3

25,6%

5,8%

set

01/09/2016

PNAD-C

2016

4

25,2%

5,9%

dez

01/12/2016

PNAD-C

2017

1

27,4%

6,7%

mar

01/03/2017

PNAD-C

2017

2

26,9%

6,8%

jun

01/06/2017

PNAD-C

2017

3

25,2%

6,0%

set

01/09/2017

PNAD-C

2017

4

25,2%

6,0%

dez

01/12/2017

PNAD-C

2018

1

25,4%

6,8%

mar

01/03/2018

PNAD-C

2018

2

25,6%

6,7%

jun

01/06/2018

PNAD-C

2018

3

25,1%

6,3%

set

01/09/2018

PNAD-C

2018

4

25,2%

6,3%

dez

01/12/2018

PNAD-C

2019

1

25,3%

6,8%

mar

01/03/2019

PNAD-C

2019

2

25,0%

6,9%

jun

01/06/2019

PNAD-C

2019

3

24,8%

6,4%

set

01/09/2019

PNAD-C

2019

4

24,0%

6,2%

dez

01/12/2019

PNAD-C

2020

2

23,8%

4,2%

mai

01/05/2020

PNAD-Covid

2020

2

21,7%

3,3%

jun

01/06/2020

PNAD-Covid

 

 

( da redação com informações de assessoria e Twitter. Edição: Genésio Araujo Jr)



Link da notícia
http://politicareal.com.br/noticias/nordestinas/583664/auxilio-emergencial-pessoas-na-extrema-pobreza-no-brasil-chegam-a-33-em-junho-a-maior-queda-em-40-anos-pesquisador-disse-que-se-economia-nao-reagir-havera-recuo