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Nordestinas
  • 14/04/2017 13h45

    ESPECIAL – Antonio Carlos Valadares explica o tamanho do afastamento politico com Jackson Barreto, fala de André Moura, Aracaju e sobre as reformas do Governo Temer

    Senador faz mistério se concorrerá a novo mandato ao Senado e não esconde mágoas por conta da eleição de Aracaju
    Foto: Agencia Senado

    Antonio Carlos Valadares falou longamente à Política Real, especialmente sobre Sergipe

    (Brasília-DF,14/04/2017) Em meio ao vendaval que tomou de conta de Brasilia por conta da divulgação da ” Lista de Fachin “ em face das delações de ex-executivos da Odebrechet que atingiu em cheio a elite da política brasileira e que também vai arrastar a política nos estados, especialmente no Nordeste, região que foi coadjuvante no escândalo do “Mensalão”, porem é protagonista no “Petrolão” , a Política Real encontrou condições para conversar com o senador Antonio Carlos Valadares(PSB-SE), que ganhou portagonismo, nessa semana atípica, por ter sido cotado para presidir a Comissão Mista de Orçamento(CMO). O governador do Sergipe, Jackson Barreto(PMDB), esteve em Brasília na semana e preferimos tratar das razões para o afastamento politico entre ambos, que tende a ter desdobramentos nunca vistos na política do Sergipe.

    Quem conhece o Sergipe sabe da proximidade entre os dois, é longa. Valadares falou sobre o afastamento, com detalhes. Ele não esconde uma mágoa, mas se diz um homem “pacific”.

    “Estive incluído nesse agrupamento do qual faz parte o governador Jackson Barreto até as eleições de 2014. Dele fiz parte, e lutei por seu fortalecimento, sem interrupção, por mais de 20 anos. Essa interrupção só veio acontecer, no final daquele ano, por culpa exclusiva de Jackson Barreto que me desconsiderou publicamente.”, diz em um momento da conversa.

    Passados os chamados 100 dias da administração do prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, que derrotou seu filho, o deputado Valadares Filho(PSB-SE), na disputa em segundo turno pela Capital Sergipana no ano passado, ele deu sua opinião, mas disse torcer por melhorias para a cidade.

    “Nunca em toda a história de nosso município vimos um prefeito, nos primeiros 100 dias de sua administração, dar tantos tropeços, próprios de um simples iniciante em gestão pública (e como ele se gabava de ser experiente!), e se transformar, em tão pouco tempo, numa figura política desgastada.”, disse, critico.

    Sobre o governo de Jackson Barreto, no Sergipe, entende que ele não vai deixar marcas.

    “Tenho a sensação de que Jackson Barreto vai terminar o seu mandato sem deixar sequer uma marca representativa de sua passagem pelo governo.”, disse.

    Ao final, ele falou sobre a Reforma da Previdência, e dá sinal que o ele o PSB não vão aprovar nem essa nem outras reformas do jeito que o governo federal apresentou ao Congresso Nacional.

    Confira a entrevista, na íntegra:

    Política Real - A eleição municipal de Aracaju contribuiu para aumentar o seu distanciamento como o governador Jackson Barreto? Afinal, em 2014 vocês não estavam juntos?     

    Valadares – Essa situação não foi provocada por mim. Partiu do outro lado. É só refrescar um pouco a memória e recordar a violência verbal, jamais vista em outras campanhas. Me refiro às eleições de 2016, em Aracaju. Parecia que o mundo ia se acabar se Edvaldo não ganhasse a prefeitura. Era como se fosse a última cartada de Jackson Barreto & Cia vencer o candidato do PSB, Valadares Filho.  Em desespero, entraram para a aeronave do xingamento e partiram para uma viagem do ou tudo ou nada.  Criaram factoides e mentiras deslavadas. Partiram para o ataque sem dó e piedade contra um candidato moderado, que crescia a olhos vistos. A sua postura de não responder, acreditando que o povo só queria ouvir propostas não foi a melhor estratégia.

    Na base do vale tudo, instalou-se na campanha o marketing do mal, sob o comando de Jackson e Edvaldo e sob a batuta da mente devastadora de Cauê, com o objetivo de descontruir a imagem de Valadares Filho. Passei então a reagir, como era do meu dever, nas redes sociais, usando o meu “megafone” chamado twitter, sem, no entanto, baixar o nível. Chegaram ao ponto de, até nas carreatas, com a presença de Edvaldo e Eliane, orientarem os locutores de seus potentes carros de som, a esbravejarem em todos os bairros, por onde circulavam, que o nosso candidato estava montando uma quadrilha pra roubar os cofres da Prefeitura. Quem conhece a família Valadares sabe muito bem que não temos esse costume. Foi uma ofensa vil e covarde contra um candidato que tem uma vida limpa, que segue uma tradição e uma cultura familiar de não pegar no alheio para enriquecimento ilícito. Além disso, pela campanha decente que vinha fazendo, Valadares Filho não merecia aquele tratamento.

    Essa gente aprendeu a transformar amigos ou adversários, em inimigos, a depender das conveniências.  Cansei-me desse jogo baixo e atrevido. Continuo sendo um homem pacífico. Apenas resolvi assumir uma postura mais protagonista, respondendo com firmeza e indignação todas as imprecações que considero injustas. Continuarei a usar esse “megafone" moderno, o twitter.  Ao fazê-lo sei que estou a incomodar os poderosos. Minhas postagens alcançam milhares de internautas formadores de opinião que multiplicam, generosamente, uma síntese do que penso, escrevo ou digo. A cantilena dos que não suportam críticas, mesmo que sejam divulgadas em espaço tão diminuto de apenas 140 caracteres, é que deveríamos simplesmente calar, diante do resultado da eleição de Aracaju, e nos conformarmos com a derrota.  Claro que estamos conformados, porque respeitamos a vontade do povo, mas ninguém comprará o nosso silêncio. 

    Quando a oposição fala, faz críticas procedentes, sem ultrapassar as regras do debate político, e sem radicalismos inconsequentes, como nos aconselha a democracia, cumpre uma tarefa nobre. Eu procuro agir assim, para ter o acatamento dos que me acompanham e o respeito dos que não estão do meu lado.

    Política Real - Qual foi a razão principal de seu apoio a Jackson Barreto para o governo do Sergipe em 2014 e o verdadeiro motivo para o rompimento? Foi por causa da eleição de Aracaju, com a derrota de Valadares Filho? Eduardo Campos concordava com esse apoio?

    Valadares – Muito antes das eleições de Aracaju, o meu afastamento era do conhecimento público.

    Estive incluído nesse agrupamento do qual faz parte o governador Jackson Barreto até as eleições de 2014. Dele fiz parte, e lutei por seu fortalecimento, sem interrupção, por mais de 20 anos. Essa interrupção só veio acontecer, no final daquele ano, por culpa exclusiva de Jackson Barreto que me desconsiderou publicamente. Só Deus sabe as resistências que enfrentei dentro do PSB Nacional para aceitar essa aliança. Mesmo contrariando a Eduardo Campos, presidente do PSB, terminei apoiando Jackson Barreto, indicando como vice BeIivaldo, um político em quem confiava, pelo seu passado de fidelidade ao nosso partido. Registro que, por causa desse acordo político que o PSB fez para eleger Jackson Barreto, Eduardo Campos ficou tão triste com nossa atitude que nunca mais pisou os pés em Sergipe. Eduardo Campos e Pedrinho me aconselhavam a ser candidato ou apoiar Eduardo Amorim para governador.

    Um fato relevante pesou, e muito, para realizarmos aquela aliança. Ainda estava bem viva na minha memória a lembrança do amigo inesquecível Marcelo Déda, o seu esforço para vencer a terrível doença que o abateu tão prematuramente, a sua luta para formar, junto comigo e de tantos companheiros abnegados, um grupo coeso para mudar os rumos de Sergipe e colocá-lo na rota do desenvolvimento. Mesmo no prejuízo, acho que valeu a pena no plano da coerência, aquela posição de tentar mais uma vez a luta pela continuidade. Cumpri a minha parte.

    Para minha surpresa e decepção, depois da apuração dos votos da eleição presidencial no segundo turno, sem qualquer justificativa fui agredido publicamente pelo governador Jackson Barreto. Foram palavras reveladoras de um oportunismo barato, que, imediatamente, receberam a minha reprimenda e o meu justo protesto. 

    Compreendi então que eu havia sido enganado, que estava sendo descartado, que ali não havia mais lugar para mim. A minha exclusão estava decretada. Dei-lhe uma resposta dura na imprensa, e nas emissoras. Depois fui me dedicar ao Senado. Não compareci à sua posse. Nem estive no Palácio do Governo até hoje.  Nunca mais o procurei. Fiquei só esperando que os meus companheiros do PSB entendessem que eu, pessoalmente, estava fora daquele projeto. Já estava decidido e ninguém me convenceria a ficar por migalhas de poder.

    A oposição para mim nunca foi um espantalho. Para chegar a participar do governo com a ascensão de Marcelo Déda, fiquei no batente da oposição por mais de 15 anos.

    Finalmente, quase um ano antes da eleição municipal, a maioria do PSB me entendeu e começou a abandonar o governo. Daí surgiu a candidatura de Valadares Filho para prefeito da Capital descolada de Jackson Barreto, como devia ser. Não ganhamos, mas demos um grande passo para a autonomia política do PSB, para o afastamento definitivo de um projeto de poder ultrapassado, que  prova a cada dia a sua inaptidão para a boa governança, sem nenhuma visão de futuro para o nosso Estado. Um novo projeto está em curso. Começo tudo do zero. Não me arvoro de herói nem tampouco de ser mais corajoso do que os outros, mas, é hora de dizermos, “Alea jact est!”, e partirmos confiantes no próximo ano para a luta democrática das eleições, sem medo e sem ódio. 

    Política Real - E a administração do prefeito Edvaldo Nogueira como o senador avalia?

    Valadares - Todos aqueles que conheceram como governa Edvaldo, que passou 7 anos como prefeito, sabiam de antemão que seria grande a frustração dos eleitores de Aracaju, depois de sua posse. A promessa da revogação imediata do IPTU, que não cumpriu, e nunca será por ele cumprida; o atraso da folha de servidores; o desregramento na nomeação de milhares de cargos em comissão para atender ao apetite de aliados e atrair novos aliados na Câmara de Vereadores, fazendo o contrário do que prometeu; o escândalo do lixo que poderia ter sido evitado, caso tivesse agido com firmeza, desde a sua primeira gestão; e o abandono indiscriminado dos bairros. São, por enquanto, as mais eloquentes demonstrações de seu despreparo para governar uma Capital como Aracaju.

    Nunca em toda a história de nosso município vimos um prefeito, nos primeiros 100 dias de sua administração, dar tantos tropeços, próprios de um simples iniciante em gestão pública (e como ele se gabava de ser experiente!), e se transformar, em tão pouco tempo, numa figura política desgastada.

    Torço que ele melhore, senão seremos obrigados a suportar mais quatro anos de um desastre anunciado, que fora ocultado pelo marketing só pra conquistar a prefeitura.  O povo merece um esforço além do possível e do necessário para que Aracaju tenha melhores dias com um governo mais atento, mais precavido, e mais eficiente.

    Política Real - Quanto ao governo Jackson Barreto, qual a sua avaliação?

    Valadares - Tenho a sensação de que Jackson Barreto vai terminar o seu mandato sem deixar sequer uma marca representativa de sua passagem pelo governo.

    As obras do Proinvest que andam devagar, quase parando, são do governo Marcelo Déda que contraiu um empréstimo junto ao BNDES. Parte desses recursos está sem uso na Caixa, esperando a conclusão de obras para o seu desembolso. O BNDES teve que prorrogar contratos por descumprimento de prazos por parte do governo. A Assembleia Legislativa, deu-lhe carta branca para fazer o que quisesse com o dinheiro do Proinvest, mas, ainda assim, as obras, em sua grande maioria, andam a passos de cágado. Até que, de uns dias para cá, depois de um requerimento de informações dos senadores junto à CGU e ao TCU, parece que algo se moveu e algumas obras estão andando.

    É um governo que está fazendo história pelo lado negativo. É o primeiro governo que atrasa salários, não tem um calendário definido, e nem está aí pra isso. Todavia, sabendo como poucos atrair apoios com o uso da máquina, o seu trabalho preferencial, para não dizer a sua prioridade com gestor, é atrair políticos adversários para a base de apoio, como se, com esse expediente, lesivo ao contribuinte, levasse também o povo. Em todos os cantos pavoneia-se de estar desidratando a oposição. Enquanto isso o governo fica ao léu.

    As secas são o maior flagelo que já se abateu sobre Sergipe, nos últimos 100 anos, reduzindo a capacidade produtiva agropecuária a zero, dizimando o nosso rebanho, por falta d’agua no sertão.  E o que fez o governador em momento tão crucial?  Impediu, por mero ciúme e capricho, ou vaidade, que o Ministro da Integração Helder Barbalho, que é do seu partido (PMDB) viesse a Sergipe debater com prefeitos saídas para combater as secas. A reunião para a qual ele próprio havia sido convidado seria realizada na Codevasf, uma empresa do Ministério da Integração. O governador achou que a presença do Ministro na Codevasf, trazendo benefícios para o sertanejo, seria bom politicamente pra Valadares e Eduardo Amorim. Mente pequena para uma grande causa. Podemos divergir na política, mas se todos estivermos unidos por Sergipe ninguém perde, todos ganham, e quem mais ganha é quem mais precisa, o sertanejo, que está à nossa espera.

    O governador reclama do governo federal mais carros pipas, mecanismo humilhante, muito usado no século passado para prover abastecimento emergencial, como fonte de escravização e exploração dos sertanejos durante as secas. 

    Por último, para mostrar a omissão do governo que não pensa na boa política, foi decepcionante sabermos que o governador desconhecia o valor para o Sertanejo de uma obra estruturante como o Canal de Xingó. Só veio se dar conta de sua importância para o Sertão, durante o carnaval deste ano, ao ler a obra do engenheiro sergipano Renato Conde Garcia, intitulada “Linha Mestra Xingó”.  Antes tarde do que nunca.

    Política Real -  Tomamos conhecimento que o senador foi aconselhado publicamente pelo governador Jackson Barreto a se aposentar da política. O Sr pretende disputar pela 4ª vez o senado?

    Valadares  - Quando chegar a hora todos juntos vamos definir o que será melhor para o futuro de Sergipe. Se depender de mim, vou tentar o Senado. Quanto à sugestão de Jackson Barreto, de que eu deveria me aposentar, acho melhor que cuide do Estado, e não fique como um velho mexeriqueiro se metendo na vida dos outros, e em assuntos que não lhe competem.

    Política Real  – O deputado André Moura, que ocupa uma posição de destaque como líder do governo no Congresso tem tirado muitas fotos com o governador Jackson Barreto, encaminhando seus pedidos aos Ministérios, o senhor acha possível uma adesão do deputado ao grupo do governador?

    Valadares– O governador de fato insiste em tirar fotos com o líder André Moura para passar a imagem que está trabalhando por Sergipe.

    Pena que os temas tratados sejam sempre os mesmos, alguns dos quais já resolvidos em diversos eventos, nos ministérios e na presidência da república, conforme divulgação na mídia e nas redes sociais.  Não tenho procuração para falar em nome do líder André Moura político que admiro por sua capacidade de engolir sapos, e de fazer de conta que não está entendendo o jogo do adversário.  Jackson tem o poder da sedução da caneta para atrair apenas neófitos.  André Moura não é marinheiro de primeira viagem para se deixar seduzir pelo canto da sereia.

    Política Real  – O PSB está integramente fechado com a reforma da previdência?

    Valadares - Muito difícil para o PSB aprovar todos os pontos da Reforma. 

    A questão da idade mínima igual para homens e mulheres, por exemplo, as regras de transição e a aposentadoria especial dos professores e trabalhadores rurais, são temas muito sensíveis, que mexem com bandeiras do nosso partido.

    Minha opinião é que outras medidas podiam ser tomadas de imediato para garantir o equilíbrio do sistema previdenciário, e deixar para mais adiante mudanças substanciais para garantir o pagamento das aposentadorias. FHC e Lula conseguiram aprovar pontos importantes, de forma paulatina.  Tudo de uma vez, incluindo a reforma trabalhista, como quer o governo, é complicado.

     

    ( da redação com informações de assessoria. Edição: Genésio Araújo Jr) 


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